domingo, 29 de maio de 2011

Bênção, Mamãe África

[...] Muitas sementes da sabedoria dos africanos, em mim plantadas, ainda não encontraram terreno fértil para germinar, mas não desisto e, por isso, cuido desse terreno em todo momento. Outras há, no entanto, que cresceram e até deram frutos. Foi assim refletindo que resolvi homenagear o berço da humanidade – a África -, aproveitando este precioso espaço de comunicação que a mim foi concedido para, humildemente, tentar espalhar essas sementes, na esperança que elas caiam em terrenos férteis.

Foi através da tradição oral, chamada na língua yorubá de ipitan, que entrei em contato com a maravilhosa arte de viver do africano, que tem na alegria um de seus fundamentos. Entretanto, nós brasileiros, que temos nesse povo uma de nossas descendências, não devemos correr o risco de sermos megalomaníacos e considerar a filosofia africana a melhor. Todo povo possui sua sabedoria, mas a Sabedoria, assim como Deus, é uma só. A mesma base, os mesmo fundamentos, apenas transmitidos de acordo com a cultura e o lugar de viver correspondente. Se foi através da tradição oral que aprendi, é agora na escrita, iwe-kikó, que encontro condições favoráveis para transmitir, a um maior número de pessoas, os ensinamentos absorvidos e os quais ainda pretendo assimilar, de maneira profunda.
Conheçamos, então, um pouco do muito que possui a filosofia do povo africano:

- É na alegria e na generosidade que se encontra a força que se precisa para enfrentar os obstáculos da vida: “Lé tutu lé tutu bó wá” = “Sigamos em frente alegremente, sigamos em frente iluminados, dividindo o alimento adquirido”.

- A palavra tem o poder de materializar o que existe em potencial no universo, por isso os africanos falam muito e alto, quando precisam canalizar sua energia em direção ao que é essencial, mas silenciam nas horas necessárias. Um orin faz entoar: “Tè rolè... Mã dé tè rolè. Báde tè role” = “Eu venero através do silêncio... Eu pretendo cobrir meus olhos e calar-me. Ser conveniente, respeitando através do silêncio”.

- Nosso maior inimigo (como também nosso maior amigo) somos nós mesmos: “Dáààbòbò mi ti arami” = “Proteja-me de mim mesma”.

- O cuidado com o julgamento do outro e também com o instinto de perversidade: “Bí o ba ri o s'ikà bi o ba esè ta ìká wà di méjì” = “Se vir o corpo de um perverso e chutá-lo, serão dois os perversos”.

- O respeito às diferenças: “Iká kò dógbà” = “Os dedos não são iguais”.

- A necessidade de um permanente contato com a Essência Divina que cada um possui: “Eti èmí óré dé ìyàn. Àroyé èmí óré dé ìyà” = “Na dificuldade de decisão e no debate, a Essência Divina amplia a visão para argumentar”.

Como se vê, o corpo da tradição oral africana, que é composto de itan – mito; oriki – parte do mito que é recitada em forma de louvação e vocação; orin – cântico de louvação; adurá – reza; ówe – provérbio serve para nos disciplinar. Entretanto, nenhuma sabedoria tem mais valor do que a filosofia do ìwà, palavra que pode ser traduzida como conduta, natureza, enfim, caráter. Devemos estar atentos aos nossos comportamentos. Pois, como falam os africanos após enterrar um amigo, “ó kù ó, ó kù ó ìwà ré”, querendo dizer, “não podemos lhe acompanhar no resto de sua viagem, agora só fica você e seus comportamentos”.

Autora: Maria Stella de Azevedo Santos - Mãe Stella
Artigo publicado na editoria Opinião do Jornal A Tarde, no dia 25/05/2011

Percebam a profundidade das palavras da Yalorixá. É muita sabedoria!

domingo, 22 de maio de 2011

Encontros e despedidas









Atenção para a letra de Milton Nascimento e Fernando Brant. Vejam como a música fala do nosso processo de aprendizado através da reencarnação. Divirtam-se!!

domingo, 15 de maio de 2011

Cotonetes espirituais

“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.” Salmo 23

O salmo citado acima nos esclarece sobre a presença divina na nossa vida em todas as ocasiões, principalmente nas dificuldades. Entendo que a divindade é ostensiva através dos benfeitores que se dispõem a nos auxiliar, como diria o texto da cerimônia católica do casamento “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”. A questão é que nem sempre estamos atentos, despertos para ouvir as sugestões oportunas que esses anjos nos enviam, muito pelo fato de não termos os nossos ouvidos treinados. Aí é que entra o “cotonete espiritual”.

Para que serve? Onde posso comprar? Qual o preço? É de algodão? Nenhuma das perguntas anteriores tem importância alguma, a não ser a primeira. Para que serve?

A ferramenta que batizei de cotonete espiritual não é algo físico. Não tem algodão, não se pode comprar, não é rígido nem flexível, não é azul, mas serve para melhorar a nossa audição interna, a audição da nossa alma. Serve para que possamos escutar melhor os recados enviados à nossa ajuda. E como posso fazer isso? Modificando-me.

Já escutamos sobre o autoconhecer, as questões morais, o conhecimento das leis de causa e efeito, mas nada disso fará sentido se não quisermos nos modificar. Caso a renovação não tenha sido iniciada, nem adianta se preocupar com a limpeza da audição da alma. Vamos entender melhor os recados, mas corremos o risco de cairmos na inércia.

Uma coisa é certa, os cotonetes estão ao alcance de todos. Cada um de forma particular, já que para as questões intrínsecas não existem fórmulas mágicas. O seu material está disponível no seu coração, assim como o meu está disponível no meu. Somente nós, e os nossos protetores, conhecemos as nossas necessidades individuais e é por isso que você não pode usar o meu cotonete e nem eu posso usar o seu.

Mesmo na impossibilidade de utilizarmos o cotonete do próximo uma verdade é inconteste. Podemos ajudar uns aos outros na busca pela renovação, pelo exercício diário, pela modificação, encorajando, falando e, principalmente, agindo.

É isso. Pegue o seu cotonete e inicie a limpeza do seu aparelho psíquico, da audição da alma. Certamente as mensagens chegarão mais claras “ainda que ande no vale da sombra da morte”.

Autor: Ivan Cézar
Colaboração: Thaize Barbosa

Opinem!!!!

domingo, 8 de maio de 2011

MATERNIDADE DIVINA – A GRANDE DEUSA-MÃE

Sendo a Trindade Suprema constituída por três pessoas, uma delas deveria ser necessariamente a “mãe”, uma vez que as outras duas são o Pai e o Filho.

No cristianismo gnóstico primitivo, a terceira pessoa (o Espírito Santo) era identificada com Sofia (ou sabedoria ativa), uma representação feminina.

Com a exclusão do princípio feminino da Trindade, o cristianismo se tornou uma das poucas religiões que negligenciaram o aspecto feminino da Divindade, embora o culto a Maria tenha sido introduzido apressadamente no início da idade média, porque a falta deste princípio estava levando muitos dos fiéis a retornarem aos cultos “pagãos” de Ísis, Hathor, Demeter, Ceres, Freya, Athena, Afrodite, Cibele Ártemis, Epona, Kwan Yin, Kali, Saraswati, Lakskmi e Parvati.

O arquétipo da Grande Mãe Universal, geradora e sustentadora da vida e consoladora dos aflitos está profundamente arraigado no inconsciente coletivo da humanidade.

Esse arquétipo pode ser substituído na forma superficial por outra imagem simbólica, como ocorreu na substituição do culto de Ísis pelo culto de Maria, mas, em essência, trata-se do mesmo princípio da maternidade universal, a grande-mãe levada a seu nível mais arquetípico e universalizado.

Por trás da estonteante profusão de deusas das religiões pré cristãs, pode-se perceber a presença do mesmo arquétipo: a deusa-mãe, que produz e sustenta as formas de vida. A deusa consoladora e nutriz a quem os fiéis dirigiam suas preces e oferendas nos momentos de aflição e sofrimento.

O protestantismo nega veementemente a validade do culto à Maria, porque o protestantismo nada mais é do que o judaísmo reciclado e cristianizado, mantendo, porém as atitudes básicas e valores do judaísmo tradicional, uma religião essencialmente masculina.

Além desse aspecto, o protestantismo é uma religião pouco afeta ao simbolismo, sendo fundamentada numa interpretação mais literalizada das escrituras.

Esquecem-se, porém, de que o judaísmo atual é produto da codificação dos levitas jeovitas. No judaísmo primitivo, o Deus El tinha uma consorte, Áshera. Também na Cabala existem personificações femininas das Sephitotes (esferas de emanação), a exemplo de Binah e Netzah.

O próprio texto do Gênese começa com uma frase simbólica e enigmática: “No início, o espírito de YHWH pairava sobre a face das águas”.

Essa é uma frase de uma profundidade e riqueza simbólica extraordinária. Seria grotesca a interpretação literal de se imaginar que o texto se refere a um homenzarrão pairando sobre um vasto oceano de águas revoltas.

A metáfora significa que antes de a manifestação se iniciar, havia dois princípios: o princípio de Vida/Consciência (O Espírito de Deus) e o princípio original da matéria (as águas) que estavam em estado revolto como um grande mar de matéria-raiz primordial, que formava o oceano do caos na aurora da manifestação.

Um taoísta experimentado perceberia nesses dois princípios o Iang e o Ying primordiais, princípios cósmicos impessoais expressos através de simbolismo, que é a única maneira de aludir a algo tão distante da experiência humana e tão além da compreensão humana, especialmente de povos primitivos da idade do bronze.

Essas “águas primordiais” sobre as quais pairava o Espírito de YHWH são a verdadeira Virgem Maria, capaz de gerar o universo como o filho de sua união com o sopro de IHWH.

Esse é o mistério maior, representado em escala menor pela imaculada concepção de Maria.

Em escala cósmica, Maria (ou a Grande mãe) é o grande mar, o útero cósmico de onde nasce o universo. Não é por acaso que as palavras mar e maria, assim como mater e matéria têm a mesma origem.

Em sua visão impessoal da origem do mundo através da interação dos princípios masculinos (Iang) e feminino (Ying), os taoístas correm menos riscos do que os ocidentais de confundir símbolos com realidades.

Eles sabem que, na realidade, não existe a dualidade entre Pai e Mãe, ou entre o “Espírito de Deus” e a “face das águas”. Ambos são aspectos diferenciados da mesma unidade, são diferentes polaridades do grande Tao.

Assim, resolve-se o problema da maternidade divina, sem necessidade de se criar dualidades ou de supor que existe “um deus” e “uma deusa”.

Fazendo-se uma analogia com a luz do sol, pode-se notar que a Luz do sol em si mesma corresponde ao “Pai”. A mesma luz, atuando como o princípio criador e nutridor das formas de vida, corresponde à mãe. Nessa analogia, o “Pai” representa o princípio fertilizador da luz. A “mãe” representa o princípio criador e nutridor das formas de vida. E o “filho” representa os seres criados, que, por sua vez, repetem o mesmo ciclo em seu ambiente de vida.

Neste momento de virada de século (e também de ciclo), nota-se uma saturação e esgotamento da forma de religiosidade predominantemente masculina oferecida pelo cristianismo eclesiástico. A humanidade anseia por novas sínteses integradoras, ao mesmo tempo em que as velhas formas reagem e se solidificam através do fundamentalismo.

Todavia, nada pode conter o movimento inexorável dos ciclos, e uma nova religião que reintegre Deus-Pai, Deus-Mãe e Deus-Filho irá reaproximar a humanidade e promover a renovação do mundo.

Disponível em: http://www.sociedadeteosofica.org.br/bhagavad/site/livro/cap38.htm

domingo, 1 de maio de 2011

Transição sem tragédias

Sempre existiu na humanidade a certeza de que o mundo se acabaria como uma forma de castigo à humanidade por não estar correspondendo aos anseios, vontades, desígnios de Deus. As religiões se incumbiram de transformar em realidade fatos mitológicos, como instrumento de intimidação, consequentemente de domínio. Domínio pelo medo. Permanece no imaginário, no inconsciente coletivo de todos a punição a Prometeu, personagem mítico grego, por ter roubado do Olimpo, de Zeus, o fogo da liberdade, do conhecimento. Sentenciado ao sofrimento eterno, tem o seu fígado devorado pela manhã por uma águia e reconstituído à noite para, no dia seguinte, começar tudo de novo.

Infelizmente, muitos espíritas também embarcam nessa história, só faltam falar, como verdade, do arrebatamento bíblico, onde os “bons” desaparecerão, sumirão e aqui na Terra ficarão os “maus” para sofrerem as intempéries da vida, dos desastres, das catástrofes. Ora, ora, imaginar tal crueldade de Deus é, no mínimo, imaginá-Lo como Zeus, perverso, cruel e não o Amor como João o conceituou. Pena que muitos pregadores religiosos tentam justificar o natural dos processos humanos como o fim de tudo, transição para a reconciliação. Bobagens.

Os habitantes da Terra sempre estiveram à mercê dessas “profecias”, esperando o momento de tal transição. A verdade é que ela se dá naturalmente, sem a intervenção de qualquer “ira” divina, pois não se trata de vingança, mas de graduação evolutiva.

Fico imaginando o que disseram os religiosos sobre o Vesúvio e Pompeia; sobre a peste negra que dizimou um terço da população da Europa; da gripe espanhola que matou entre oitenta e cem milhões de pessoas, mais do que as duas grandes guerras juntas; os terremotos na China, no século XVI, que mataram cerca de 900 mil pessoas; na Índia do século XVII foram mais de 300 mil. Sem falar, naturalmente, dos grandes desastres sem registros.

Quebremos, portanto, essa lenda do fim de mundo, de eleição dos escolhidos com os gáudios da vida eterna e aos desertores do “bem”, o suplício das enchentes, dos tsunamis, terremotos. Chega a ser cruel com todos os seres humanos decentes, famílias inteiras que porventura morreram e morrem nesses naturais desastres que permeiam a Terra por contingências inerentes a este habitat de todos nós.

Não sejamos arrogantes a ponto de acharmos que somos os escolhidos e aqueles que morreram e morrem nessas situações de tragédias estão “pagando” pelos seus desatinos. É difamação contra milhares de pessoas, repito que, centenas delas, sem dúvida alguma, pela probabilidade, guardaram as suas vidas pautadas na ética e na moral, por que não?!

A Terra prosseguirá o seu trajeto evolutivo e manterá o seu desiderato de acordo com a sua própria estrutura constitutiva, ou reagindo, em caso de enchentes, à indevida ocupação do homem sobre seus espaços.

Deus não é Zeus, nem um ser, já sabemos “é uma inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas”, então, não se vinga.

Autor: José Medrado - Fundador e Presidente do complexo Cidade da Luz