domingo, 24 de fevereiro de 2013

Salmo 23


“O Senhor é o meu pastor,
Nada me faltará,
Deitar-me faz em verdes pastos,
Guia-me mansamente,
A águas mui tranquilas,
Refrigera minh'alma,
Guia-me nas veredas da justiça
Por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse
Pelo vale das sombras da morte,
Não temeria mal algum,
Porque Tu estás comigo…
A tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas-me o banquete do amor
Na presença dos meus inimigos,
Unges de perfume a minha cabeça,
O meu cálice transborda de júbilo!…
Certamente,
A bondade e a misericórdia
Seguirão todos os dias de minha vida
E habitarei na Casa do Senhor
Por longos dias…”

domingo, 17 de fevereiro de 2013

A Capa de Santo

Certo discípulo, extremamente aplicado ao Infinito Bem, depois de largo tempo ao lado do Divino Mestre recebeu a incumbência de servi-lo entre os homens da Terra.

Desceu da Esfera Superior em que se demorava e nasceu entre as criaturas para ser carpinteiro.

Operário digno e leal, muita vez experimentou conflitos amargurosos, mas, fervoroso, apegava-se à proteção dos santos e terminou a primeira missão admiravelmente.

Tornou ao céu, jubiloso, e recebeu encargos de marinheiro. Regressou à carne e trabalhou assíduo, em viagens inúmeras, espalhando benefícios em nome do Senhor.

Momentos houve em que a tempestade o defrontou ameaçador, mas o aprendiz, nas lides do mar, recorria aos Heróis Bem-Aventurados e entesourou forças para vencer.

Rematou o serviço de maneira louvável e voltou à Casa Celeste, de onde retornou ao mundo para ser copista.

Exercitaram-se, então, pacientemente, nos trabalhos de escrita, gravando luminosos ensinamentos dos sábios; e, quando a aflição ou o enigma lhe visitaram a alma, lembrava-se dos Benfeitores Consagrados e nunca permaneceu sem o alívio esperado.

Novamente restituído ao Domicílio do Alto, sempre louvado pela conduta irrepreensível, desceu aos círculos de luta comum para ser lavrador.

Serviu com inexprimível abnegação à gleba em que renascera e, se as dores lhe buscavam o coração ou o lar, suplicava os bons ofícios dos Advogados dos Pecadores e jamais ficou desamparado.

Depois de precioso descanso, ressurgiu no campo humano para exercitar-se no domínio das ciências e das artes.

Foi aluno de filosofia e encontrou numerosas tentações contra a fé espontânea que lhe sustentava a alma simples e estudiosa; todavia em todos os percalços do caminho, implorava a cooperação dos Grandes Instrutores da Perfeição, que haviam conquistado a láurea da santidade, nas mais diversas nações, e atravessaram ilesas, as provas difíceis.

Logo após, foi médico e surpreendeu padecimentos que nunca imaginara. Afligiram-se milhares de vezes ante as agruras de muitos destinos lamentáveis; refugiou-se na paciência, pediu socorro dos Protetores da Humanidade e, com o patrocínio deles, venceu, mais uma vez.

Tamanha devoção adquiriu que não sabia mais trabalhar sem recurso imediato ao concurso dos Espíritos Glorificados na própria sublimação.

Para ela, semelhantes benfeitores seriam campeões da graça, privilegiados do Pai Supremo ou súdito favorecidos do Trono Eterno. E, por isso, prossegui trabalhando, agarrando-se-lhes à colaboração.

Foi alfaiate, escultor, poeta, músico, escritor, professor, administrador, condutor, legislador e sempre se retirou da Terra com distinção.

Vitorioso em tantos encargos foi chamado pelo Mestre, que lhe falou, conciso:
- Tens vencido em todas as provas que te confiei e, agora, podes escolher a própria tarefa.

O discípulo, embriagado de ventura, considerou sem detença:
- Senhor, tantas graças tenho recebido dos Benfeitores Divinos, que, doravante, desejaria ser um deles, junto da Humanidade...
- Pretenderias, porventura, ser um santo?- indagou o Celeste Instrutor, sorrindo.
- Sim... - confirmou o aprendiz extasiado.

O senhor, em tom grave, considerou:
- O fruto que alimenta deve estar suficientemente amadurecido... Até hoje, na forma de operário, de artista, de administrador e orientador, tens estado a meu serviço, junto dos homens, junto de mim. Há muita diferença... Mas, o interlocutor insistiu, humilde, e o mestre não lhe negou a concessão.

Renasceu, desse modo, muito esperançoso, e, aos vinte anos de corpo físico, recebeu do Alto o manto resplandecente da santidade.

Manifestaram-se nele dons sublimes. Adivinhava, curava, esclarecia, consolava.

A inteligência, a intuição e a ternura nele eram diferentes e fascinantes.

E o povo, reconhecendo-lhe a condição, buscou-lhe, em massa, as bênçãos e diretrizes. Bons e maus, justos e injustos, ignorantes e instruídos, jovens e velhos, exigiram-lhe, sem consideração por suas necessidades naturais, a saúde, o tempo, a paz e a vida. Na categoria de santo, não podia subtrair-se à luta, nem desesperar, e por mais que fosse rodeado de manjares e flores, por parte dos devotos e beneficiários reconhecidos, não podia comer, nem dormir, nem pensar, nem lavar-se. Devia dar, sem reclamação, as próprias forças, à maneira da vela, mantendo a chama por duas pontas.

Não valiam escusas, lágrimas, cansaço e serviço feito. O povo exigia sempre.

Depois de dois anos de amargosa batalha espiritual, atormentado e desgostoso, dirigiu-se em preces ao Senhor e alegou que a capa de santo era por demais espinhosa e pesava excessivamente.

Reparando-lhe o pranto sincero, o Mestre ouviu-o, compadecido, e explicou:
- Olvidaste que, até agora, agiste no comando. Na posição de carpinteiro, modelavas a madeira; lavrador determinava o solo; médico, ordenavas aos enfermos; filósofo arregimentava ideias; músico, tangias o instrumento; escultor cinzelava a pedra; escritor dispunha sobre as letras; professor instruía os menos sábios que tu mesmo; administrador e legislador interferiam nos destinos alheios. Sempre te emprestei autoridade e recurso para os trabalhos de determinação... Para envergares a capa de santo, porém, é necessário aprender a servir...

A fim de alcançares esse glorioso fim, serás, de ora em diante, modelado, brunido, aprimorado e educado pela vida.

E enquanto o Mestre sorria complacente e bondoso, o discípulo em pranto, mas reconfortado, esperava novas ordenações para ingressar no precioso curso de obediência.

Contos e Apólogos - Irmão X e Chico Xavier

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Fazer o bem só pode te fazer bem


Estudos de caso revelam que pessoas que ajudam outras voluntariamente, não importa o quanto esse trabalho exija, são mais felizes.

Mesmo que você nunca tenha tido aulas de catecismo, provavelmente conhece a história do Bom Samaritano. As ações do Bom Samaritano abrangem o que hoje denominamos “altruísmo”, que significa, basicamente, ajudar os outros voluntariamente sem esperar qualquer recompensa, sendo que essa ajuda pode até acarretar grandes riscos ou custos pessoais.

A sabedoria milenar constatou que dar aos outros também é um presente para si mesmo. No Ocidente, a Bíblia, fonte da parábola do Bom Samaritano, diz, “É melhor dar do que receber”. No Oriente, ensinava Buda, “A generosidade traz abundância, purifica o coração e a mente e proporciona a maior felicidade”. Hoje, as pesquisas estão comprovando que ajudar aos outros faz bem à saúde física e psicológica.

Antes de sua morte, em 1970, o inovador psicólogo Abraham Maslow, Ph.D., concluiu que o comportamento altruísta é um reflexo magnífico do bem-estar psicológico do indivíduo. De acordo com Maslow, a pessoa “totalmente humana” é aquela que reflete o “bodhisattva” (ser iluminado) oriental. Essa pessoa é compassiva por entender que toda a vida é interligada e não deve ser vivida no isolamento, procurando satisfazer somente o próprio ego, mas a serviço da comunidade. Maslow afirmou que o altruísmo, a compaixão, o amor e a amizade significam o desabrochar das sementes com as quais todos nós nascemos.

O que torna a pessoa um altruísta? Chris Kiefer, Ph.D., professor de antropologia da Universidade da Califórnia, em San Francisco, descobriu, nas pessoas entrevistadas, que “altruístas naturais” cresceram em um lar carinhoso. As pessoas criadas por famílias onde não existia amor, ou onde o amor era distribuído de forma injusta, eram menos generosas — lhes faltava confiança e apresentavam um grau de altruísmo e saúde mental bastante inferior.

Kiefer estudou também pessoas que se tornaram altruístas apesar de infâncias desfavoráveis. Algumas se sentiam alienadas na juventude, porém mais tarde — devido a uma experiência que os converteu — descobriram quem eram e qual a sua missão. Outros souberam superar uma infância infeliz através de um difícil processo de autodesenvolvimento, pelo qual compreenderam que seu próprio crescimento e realização implicava a preocupação com o próximo. Segundo Kiefer, a transformação resulta na “união do intelecto com a emoção”.

Veja, por exemplo, Michael Spencer, formado em administração de empresas e infeliz, que mudou de rumo e começou a estudar música. Seu objetivo era tornar-se um pianista quando, certo dia, atendendo a um convite, deu um concerto de caridade em um hospital psiquiátrico. Naquele instante percebeu que era isso que desejava fazer pelo resto da vida. Como diretor fundador do Hospital Audiences, sediado em Nova York, Spencer reúne artistas de alto gabarito e um público imprevisível — pessoas com deficiência, anciães, prisioneiros e outras pessoas confinadas — que de outra forma não conseguiriam assisti-los.

Ao contrário do que dizem os céticos — que altruísmo é coisa para românticos, idealistas e santos — Chris Kiefer descobriu que os altruístas são realistas, tanto a respeito de si mesmo, como em relação ao mundo. “O altruísmo é um sinal de saúde mental, porque as pessoas saudáveis não se preocupam consigo mesmas”, diz ele.

“Estamos falando de um tipo de atividade que é expressão natural e espontânea de bem-estar e integridade, e não de deficiências e necessidades neuróticas”, acrescenta Thomas J. Hurley III, diretor do Programa do Espírito Altruísta do Instituto de Ciências Noéticas. Sediada em Sausalito, na Califórnia, esta organização sem fins lucrativos foi fundada pelo antigo astronauta Edgar Mitchell, para dar suporte a programas educacionais e de pesquisa sobre o desenvolvimento do potencial humano. Desde 1987, o Instituto oferece anualmente US.000 como prêmio para o Altruísmo Criativo de pessoas comuns que identificaram um problema e decidiram fazer alguma coisa para saná-lo.

Os altruístas são fundamentalmente iniciadores. Uma vez estabelecida uma meta na qual acreditam, fazem tudo para alcançá-la. Depois, tendo feito tudo o que foi possível, eles sabem quando tirar da mente e confiar em algo que está além do seu controle. “É nesse ponto que a prática espiritual ou fé exerce um papel importante”, explica Hurley. “Eles têm algo a que recorrer, em que confiar”.

Talvez o seu maior dom seja o que Hurley denominou “dom de reconhecer”. “Há sempre esse extraordinário e fundamental respeito pela dignidade dos outros — ‘você é valioso simplesmente por ser’”, afirma ele. “Acho que é isso que faz a vida mudar de rumo”.

A gente poderia imaginar que o tempo e o esforço dedicados a fazer o bem poderia prejudicar a pessoa. No entanto, ajudar os outros, mesmo por meio de tarefas estressantes, pode acrescentar vários anos à nossa vida.

“Quando nos dedicamos voluntariamente a essa situação, os efeitos do estresse são diferentes dos efeitos do estresse causado pelo trabalho, independente da própria vontade, que raramente podemos controlar”, diz Kenneth R. Pelletier, psicólogo clínico da Faculdade de Medicina da Universidade Stanford.

Na verdade, o que ocorre é o oposto do estresse ou reação de alerta — nós relaxamos, afirma Dr. Herbert Benson, professor adjunto de medicina da Faculdade de Medicina de Harvard. O metabolismo, a pressão arterial, os batimentos cardíacos e a respiração diminuem, assim como a ansiedade, a depressão e a irritação.

“É difícil a gente se sentir deprimido diante de um sorriso que ajudamos a criar”, diz Pelletier e acrescenta, “E se você pensa que a sua situação é dura e você se torna um voluntário, isto coloca a sua própria vida em perspectiva”.

Dar com desprendimento é um ato que nos enche de energia. Alan Luks, diretor executivo de Big Brothers / Big Sisters de Nova York, descobriu que ajudar os outros faz mais do que agir como antidepressivo e levantar a auto-estima. Também permite controlar a dor. Uma mulher que sofria de dores na coluna não sentia qualquer dor quando segurava no colo crianças abandonadas em um hospital. Após dois dias seu desconforto era ainda menor do que de costume.

Luks também escreve sobre isto em seu livro “The Healing Power of Doing Good” [O Poder Curativo de Praticar o Bem]. De 3.300 voluntários pesquisados em 1989, aqueles que ajudavam regularmente informavam dez vezes mais que havia melhorado sua saúde do que aqueles que só trabalhavam como voluntários uma vez por ano. Entretanto, o contato pessoal é importantíssimo; doar dinheiro ou roupas não proporciona a mesma “sensação de bem-estar”.
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Autor: Mirka KnasterFonte: Revista East West, novembro / dezembro 1991