domingo, 30 de junho de 2013

O Clamor das massas

Quando as injustiças sociais atingem o clímax e a indiferença dos governantes pelo povo que estorcega nas amarras das necessidades diárias, sob o açodar dos conflitos íntimos e do sofrimento que se generaliza, nas culturas democráticas, as massas correm às ruas e às praças das cidades para apresentar o seu clamor, para exigir respeito, para que sejam cumpridas as promessas eleitoreiras que lhe foram feitas...

Já não é mais possível amordaçar as pessoas, oprimindo-as e ameaçando-as com os instrumentos da agressividade policial e da indiferença pelas suas dores.

O ser humano da atualidade encontra-se inquieto em toda parte, recorrendo ao direito de ser respeitado e de ter ensejo de viver com o mínimo de dignidade.

Não há mais lugar na cultura moderna, para o absurdo de governos arbitrários, nem da aplicação dos recursos que são arrancados do povo para extravagâncias disfarçadas de necessárias, enquanto a educação, a saúde, o trabalho são escassos ou colocados em plano inferior.

A utilização de estatísticas falsas, adaptadas aos interesses dos administradores, não consegue aplacar a fome, iluminar a ignorância, auxiliar na libertação das doenças, ampliar o leque de trabalho digno em vez do assistencialismo que mascara os sofrimentos e abre espaço para o clamor que hoje explode no País e em diversas cidades do mundo.

É lamentável, porém, que pessoas inescrupulosas, arruaceiras, que vivem a soldo da anarquia e do desrespeito, aproveitem-se desses nobres movimentos e os transformem em festival de destruição.
Que, para esses inconsequentes, sejam aplicadas as corrigendas previstas pelas leis, mas que se preservem os direitos do cidadão para reclamar justiça e apoio nas suas reivindicações.

O povo, quando clama em sofrimento, não silencia sua voz, senão quando atendidas as suas justas reivindicações. Nesse sentido, cabe aos jovens, os cidadãos do futuro, a iniciativa de invectivar contra as infames condutas... porém, em ordem e em paz.

Texto de Divaldo Franco para o Jornal A Tarde

domingo, 16 de junho de 2013

Os sons da floresta

No século III d.C., um rei mandou seu filho, o príncipe T'ai, ir estudar no templo com o grande mestre Pan Ku. O objetivo era preparar o Príncipe, que iria suceder ao pai no trono, para ser um grande Administrador. Quando o Príncipe chegou ao templo, o Mestre logo o mandou, sozinho, à floresta. Ele deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever os sons da floresta.

Passando o prazo, o Príncipe retornou e o Mestre lhe pediu para descrever os sons de tudo aquilo que tinha conseguido ouvir.

"Mestre", disse o Príncipe, "pude ouvir o canto dos pássaros, o roçar das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo suavemente na grama, o zumbido das abelhas e o barulho do vento cortando os céus".

Quando o príncipe terminou, o Mestre mandou-o de volta à floresta para ouvir tudo o mais que fosse possível. O Príncipe ficou intrigado com a ordem do Mestre. Ele já não tinha distinguido cada som da floresta?

Por longos dias e noites o Príncipe se sentou sozinho na floresta, ouvindo, ouvindo. Mas não conseguiu distinguir nada de novo além daqueles sons já mencionados ao Mestre. Então, certa manhã, sentado entre as árvores da floresta, começou a discernir sons vagos, diferentes de tudo o que ouvira antes. Quanto mais atenção prestava, mais claros os sons se tornavam. Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz. " Esses devem ser os sons que o Mestre queria que eu ouvisse", pensou. Sem pressa, o Príncipe passou horas ali, ouvindo e ouvindo, pacientemente. Queria ter a certeza de que estava no caminho certo.

Quando o Príncipe retornou ao templo, o Mestre lhe perguntou o que mais ele tinha conseguido ouvir. "Mestre", respondeu reverentemente o Príncipe, "quando prestei mais atenção, pude ouvir o inaudível; o som das flores se abrindo, do sol aquecendo a terra e da grama bebendo o orvalho da manhã". O Mestre acenou com a cabeça em sinal de aprovação. "Ouvir o inaudível é ter a disciplina necessária para se tornar um grande Administrador. Apenas quando aprende a ouvir o coração das pessoas, seus sentimentos mudos, os medos não confessados e as queixas silenciosas e reprimidas, um Administrador pode inspirar confiança a seus comandados, entender o que está errado e atender às reais necessidades dos liderados. A morte de uma empresa começa quando os líderes ouvem apenas as palavras pronunciadas pela boca, sem mergulhar a fundo na alma das pessoas para ouvir seus sentimentos, desejos e opiniões reais".

Contos Sufi de Nasrudin

domingo, 9 de junho de 2013

Eihei Dogen Daiosho – Koso Joyo Daishi

"O grande Caminho dos Budas Ancestrais é necessariamente a suprema prática contínua, que circula incessantemente, sem nenhuma interrupção.

Resolução, prática, bodai (iluminação) e nirvana não possuem intervalo entre si – esta é a circulação incessante da prática contínua." (Shobogenzo Gyoji)

Nossa resolução, prática, iluminação (bodai) e obtenção de Nirvana são o desenvolvimento próprio do grande Caminho dos Budas Ancestrais. Aqui a incessante circulação da prática contínua se realiza. Assim sendo o ponto de vista de Mestre Dogen Zenji se opõe ao da heresia de Senika, que mantinha a ideia de uma inteligência espiritual brilhante existindo eternamente. Dogen Zenji inocentemente proclama "o grande Caminho é o corpo aqui e agora".

O Darma é amplamente presente em cada pessoa, mas a menos que pratique não se torna manifesta, a menos que haja realização, não é obtido.

O que precisa ser compreendido é que precisamos praticar na realização

Essa unidade de prática e realização e da incessante circulação da prática contínua é o ponto essencial dos ensinamentos de Mestre Dogen.

(trecho traduzido e extraído pela Monja Coen em 10 de abril de 2011, do livro A Study of Dogen, His Philosophy and Religion, de Masao Abe, editado por Steven Heine, publicado por State University of New York Press, Albany, 1992)

domingo, 2 de junho de 2013

Oração e provação

A oração não suprime, de imediato, os quadros da provação, mas renova-nos o espírito, a fim de que venhamos a sublimá-los ou removê-los.

Repara o caminho que a névoa amortalha, quando a noite escura te distancia do Sol.

Em cima, nuvens extensas furtam-te aos olhos o painel das estrelas e, embaixo, espinheiros e precipícios ameaçam-te os pés.

Debalde, consultarás a bússola que a treva densa embacia.

Se avanças, é possível te arrojes na lama de covas escancaradas; se paras, é provável padeças o assalto de traiçoeiros animais...

Faze, porém, pequenina luz, e tudo se modifica.

O charco não perde a feição de pântano e a pedra mantém-se por desafio que te adverte na estrada; entretanto, podendo ver, surgirás, transformado e seguro, para seguir à frente, vencendo as armadilhas da sombra e as aperturas da marcha.

Assim, também, é a oração nos trilhos da experiência.

Quando a dor te entenebrece os horizontes da alma, subtraindo-te a serenidade e a alegria, tudo parece escuridão envolvente e derrota irremediável, induzindo-te ao desânimo e insuflando-te o desespero; todavia, se acendes no coração leve flama da prece, fios imponderáveis de confiança ligam-te o ser à Providência Divina.

Exteriormente, em torno, o sofrimento não se desfaz da catadura sombria; a morte, ainda e sempre, é o véu de dolorosa separação; a prova é o mesmo teste inquietante e o golpe da expiação continua sendo a luta difícil e inevitável, mas estarás, em ti próprio, plenamente refeito, no imo das próprias forças, com a visão espiritual iluminada por dentro, a fim de que compreendas, acima das tuas dores, o plano sábio da vida, que te ergue dos labirintos do mundo à bênção do amor de Deus.

Emmanuel