domingo, 27 de maio de 2012

A serpente e o sábio

Contam as tradições populares da Índia que existia uma serpente venenosa em certo campo. Ninguém se aventurava a passar por lá, receando-lhe o assalto. Mas um santo homem, a serviço de Deus, buscou a região, mais confiado no Senhor que em si mesmo. A serpente o atacou, desrespeitosa. Ele dominou-a, porém, com o olhar sereno, e falou:

- Minha irmã, é da lei que não façamos mal a ninguém.

A víbora recolheu-se, envergonhada. Continuou o sábio o seu caminho e a serpente modificou-se completamente. Procurou os lugares habitados pelo homem, como desejosa de reparar os antigos crimes. Mostrou-se integralmente pacífica, mas, desde então, começaram a abusar dela. Quando lhe identificaram a submissão absoluta, homens, mulheres e crianças davam-lhe pedradas. A infeliz recolheu-se à toca, desalentada. Vivia aflita, medrosa, desanimada. Eis, porém, que o santo voltou pelo mesmo caminho e deliberou visitá-la. Espantou-se, observando tamanha ruína. A serpente contou-lhe, então, a história amargurada. Desejava ser boa, afável e carinhosa, mas as criaturas perseguiam-na. O sábio pensou, pensou e respondeu após ouvi-la:

- Mas, minha irmã, ouve um engano de tua parte. Aconselhei-te a não morderes ninguém, a não praticares o assassínio e a perseguição, mas não te disse que evitasses de assustar os maus. Não ataques as criaturas de Deus, nossas irmãs no mesmo caminho da vida, mas defende a tua cooperação na obra do Senhor. Não mordas, nem firas, mas é preciso manter o perverso à distância, mostrando-lhe os teus dentes e emitindo os teus silvos.

Chico Xavier e André Luiz. Da obra: Os Mensageiros.

domingo, 20 de maio de 2012

Especial Religiões IV: Hinduísmo

Denominação do conjunto de princípios, doutrinas e práticas religiosas que surgiram na Índia, a partir de 2000 a.C. O termo é ocidental e é conhecido pelos seguidores como Sanatana Dharma, do sânscrito (língua original da Índia), que significa "a ordem permanente". Está fundamentado nos quatro livros dos Vedas (conhecimento), um conjunto de textos sagrados compostos de hinos e ritos, no Século X, denominados de Rigveda, Samaveda, Yajurveda eArtharvaveda. Estes quatro volumes são divididos em duas partes: a porção do trabalho (rituais politeístas) e a porção do conhecimento (especulações filosóficas), também chamada de Vedanta. A tradição védica surgiu com os primeiros árias, povo de origem indo-européia (os mesmos que desenvolveram a cultura grega) que se estabeleceram nos vales dos rios Indo e Ganges, por volta de 1500 a.C.

Segundo ensina o hinduísmo, os Vedas contêm as verdades eternas reveladas pelos deuses e a ordem (dharma) que rege os seres e as coisas, organizando-os em castas. Cada casta possui seus próprios direitos e deveres espirituais e sociais. A posição do homem em determinada casta é definida pelo seu carma (conjunto de suas ações em vidas anteriores). A casta à qual pertence um indivíduo indica o seu status espiritual. O objetivo é superar o ciclo de reencarnações (samsara), atingindo assim, o nirvana, a sabedoria resultante do conhecimento de si mesmo e de todo o Universo. O caminho para o nirvana, segundo ensina o hinduísmo, passa pelo ascetismo (doutrina que desvaloriza os aspectos corpóreos e sensíveis do homem), pelas práticas religiosas, pelas orações e pela ioga. Assim a pessoa alcança a “salvação”, escapando dos ciclos da reencarnação.

Nos cultos védicos, os pedidos mais solicitados aos deuses são vida longa, bens materiais e filhos homens. São várias as divindades. Agni é o pai dos homens, deus do fogo e do lar. Indra rege a guerra. Varuna é o deus supremo, rei do universo, dos deuses e dos homens. Ushas é a deusa da aurora; Surya e Vishnu, regentes do sol; Rudra e Shiva, da tempestade. Animais como a vaca, rato, e serpentes, são adorados por serem possivelmente, a reencarnação de alguns dos familiares. Existe três vezes mais ratos que a população do país, os quais destroem um quarto de toda a colheita da nação. O rio Ganges é considerado sagrado, no qual, milhares de pessoas se banham diariamente, afim de se purificar. Muitas mães afogam seus filhos recém-nascidos, como sacrifício aos deuses.

Os brâmanes (sacerdotes) criaram o sistema de castas, que se tornou a principal instituição da sociedade indiana. Sem abandonar as divindades registradas nos Vedas, estabeleceram Brahma como o deus principal e o princípio criador. Ele faz parte da Trimurti, a tríade divina completada por Shiva e Vishnu. De acordo com a tradição, Brahma teve quatro filhos que formaram as quatro castas originais: brâmanes (saídos dos lábios de Brahma), são os sacerdotes considerados puros e privilegiados; os xátrias (originários dos braços de Brahma), são os guerreiros; os vaicias (oriundos das pernas de Brahma), são os lavradores, comerciantes e artesãos; e sudras (saídos dos pés de Brahma), são os servos e escravos. Os párias são pessoas que não pertencem a nenhuma casta, por terem desobedecido leis religiosas. Estes não podem viver nas cidades, ler os livros sagrados nem se banharem no Rio Ganges.

As características principais do hinduísmo são o politeísmo, ioga, meditação e a reencarnação. Estima-se que atualmente existam mais de 660 milhões de adeptos em todo o mundo, com um panteão de 33 milhões de deuses e 200 milhões de vacas sagradas. Todo gado existente na Índia, alimentaria sua população por cinco anos, entretanto, a fome é devastadora no país por causa da idolatria.

Tudo é Deus, Deus é tudo: o hinduísmo ensina, como no Panteísmo, que o homem está unido com a natureza e com o universo. O universo é deus, e estando unido ao universo, todos são deuses. Ensina também que este mesmo deus, é impessoal. Muitos deuses adorados pelos hindus são amorais e imorais.

O mundo físico é uma ilusão: no mundo tridimensional, designada de maya, o homem e sua personalidade não passa de um sonho. Para se ver livre dos sofrimentos (pagamento daquilo que foi feito na encarnação passada), a pessoa deve ficar livre da ilusão da existência pessoal e física. Através da ioga e meditação transcedental, a pessoa pode transceder este mundo de ilusões e atingir a iluminação, a liberação final. O hinduísmo ensina que a ioga é um processo de oito passos, os quais levam a culminação da pessoa transcender ao universo impessoal, no qual o praticante perde o senso de existência individual.

A lei do carma: o bem e o mal que a pessoa faz, determinará como ela virá na próxima reencarnação. A maior esperança de um hinduísta é chegar no estágio de se transformar no inexistente. Vir ser parte deste deus impessoal, do universo.

Disponível em: http://www.sepoangol.org/hindu.htm

domingo, 13 de maio de 2012

Maternidade Divina - A grande Deusa-Mãe


Publiquei o texto abaixo no ano passado e acho que vale a releitura. Divirtam-se!

Sendo a Trindade Suprema constituída por três pessoas, uma delas deveria ser necessariamente a “mãe”, uma vez que as outras duas são o Pai e o Filho.

No cristianismo gnóstico primitivo, a terceira pessoa (o Espírito Santo) era identificada com Sofia (ou sabedoria ativa), uma representação feminina.

Com a exclusão do princípio feminino da Trindade, o cristianismo se tornou uma das poucas religiões que negligenciaram o aspecto feminino da Divindade, embora o culto a Maria tenha sido introduzido apressadamente no início da idade média, porque a falta deste princípio estava levando muitos dos fiéis a retornarem aos cultos “pagãos” de Ísis, Hathor, Demeter, Ceres, Freya, Athena, Afrodite, Cibele Ártemis, Epona, Kwan Yin, Kali, Saraswati, Lakskmi e Parvati.

O arquétipo da Grande Mãe Universal, geradora e sustentadora da vida e consoladora dos aflitos está profundamente arraigado no inconsciente coletivo da humanidade.

Esse arquétipo pode ser substituído na forma superficial por outra imagem simbólica, como ocorreu na substituição do culto de Ísis pelo culto de Maria, mas, em essência, trata-se do mesmo princípio da maternidade universal, a grande-mãe levada a seu nível mais arquetípico e universalizado.

Por trás da estonteante profusão de deusas das religiões pré cristãs, pode-se perceber a presença do mesmo arquétipo: a deusa-mãe, que produz e sustenta as formas de vida. A deusa consoladora e nutriz a quem os fiéis dirigiam suas preces e oferendas nos momentos de aflição e sofrimento.

O protestantismo nega veementemente a validade do culto à Maria, porque o protestantismo nada mais é do que o judaísmo reciclado e cristianizado, mantendo, porém as atitudes básicas e valores do judaísmo tradicional, uma religião essencialmente masculina.

Além desse aspecto, o protestantismo é uma religião pouco afeta ao simbolismo, sendo fundamentada numa interpretação mais literalizada das escrituras.

Esquecem-se, porém, de que o judaísmo atual é produto da codificação dos levitas jeovitas. No judaísmo primitivo, o Deus El tinha uma consorte, Áshera. Também na Cabala existem personificações femininas das Sephitotes (esferas de emanação), a exemplo de Binah e Netzah.

O próprio texto do Gênese começa com uma frase simbólica e enigmática: “No início, o espírito de YHWH pairava sobre a face das águas”.

Essa é uma frase de uma profundidade e riqueza simbólica extraordinária. Seria grotesca a interpretação literal de se imaginar que o texto se refere a um homenzarrão pairando sobre um vasto oceano de águas revoltas.

A metáfora significa que antes de a manifestação se iniciar, havia dois princípios: o princípio de Vida/Consciência (O Espírito de Deus) e o princípio original da matéria (as águas) que estavam em estado revolto como um grande mar de matéria-raiz primordial, que formava o oceano do caos na aurora da manifestação.

Um taoísta experimentado perceberia nesses dois princípios o Iang e o Ying primordiais, princípios cósmicos impessoais expressos através de simbolismo, que é a única maneira de aludir a algo tão distante da experiência humana e tão além da compreensão humana, especialmente de povos primitivos da idade do bronze.

Essas “águas primordiais” sobre as quais pairava o Espírito de YHWH são a verdadeira Virgem Maria, capaz de gerar o universo como o filho de sua união com o sopro de IHWH.

Esse é o mistério maior, representado em escala menor pela imaculada concepção de Maria.

Em escala cósmica, Maria (ou a Grande mãe) é o grande mar, o útero cósmico de onde nasce o universo. Não é por acaso que as palavras mar e maria, assim como mater e matéria têm a mesma origem.

Em sua visão impessoal da origem do mundo através da interação dos princípios masculinos (Iang) e feminino (Ying), os taoístas correm menos riscos do que os ocidentais de confundir símbolos com realidades.

Eles sabem que, na realidade, não existe a dualidade entre Pai e Mãe, ou entre o “Espírito de Deus” e a “face das águas”. Ambos são aspectos diferenciados da mesma unidade, são diferentes polaridades do grande Tao.

Assim, resolve-se o problema da maternidade divina, sem necessidade de se criar dualidades ou de supor que existe “um deus” e “uma deusa”.

Fazendo-se uma analogia com a luz do sol, pode-se notar que a Luz do sol em si mesma corresponde ao “Pai”. A mesma luz, atuando como o princípio criador e nutridor das formas de vida, corresponde à mãe. Nessa analogia, o “Pai” representa o princípio fertilizador da luz. A “mãe” representa o princípio criador e nutridor das formas de vida. E o “filho” representa os seres criados, que, por sua vez, repetem o mesmo ciclo em seu ambiente de vida.

Neste momento de virada de século (e também de ciclo), nota-se uma saturação e esgotamento da forma de religiosidade predominantemente masculina oferecida pelo cristianismo eclesiástico. A humanidade anseia por novas sínteses integradoras, ao mesmo tempo em que as velhas formas reagem e se solidificam através do fundamentalismo.

Todavia, nada pode conter o movimento inexorável dos ciclos, e uma nova religião que reintegre Deus-Pai, Deus-Mãe e Deus-Filho irá reaproximar a humanidade e promover a renovação do mundo.

Disponível em: http://www.sociedadeteosofica.org.br/bhagavad/site/livro/cap38.htm

domingo, 6 de maio de 2012

Especial Religiões III: Budismo

O Budismo originou-se nos fins do Período Bramânico na Índia, que se estendeu aproximadamente entre os séculos IX e III antes de Cristo. Tal período pode ser subdividido entre um período bramânico ortodoxo (período de predominação dos Bramanas), um período bramânico desviante (do qual originaram-se as Upanisadas) e período das heterodoxias. Este último dá lugar à origem do jainismo e do budismo. De uma maneira geral, o budismo prega um caminho de libertação e salvação mais individualizado.

No decorrer de sua existência, a crença budista subdividiu-se em duas correntes: o Budismo Theravada, mais próximo da origem dos ensinamentos budistas (prega um único caminho para a redenção: esforço e disciplina), e o Budismo Mahayana (predominante, por exemplo, em países como o Butão, país sob regime monárquico constitucional, e na Coréia do Sul), do qual geraram-se doutrinas como a Bodhisattva e o Zen-Budismo, esta última possuindo foco de concentração no Japão (embora neste último país predomine a religião xintoísta). O Budismo, de modo geral, é organizado sob um sistema monástico.

O principal livro sagrado budista consiste no Tripitaka, livro compartimentado em três conjuntos de textos que compreendem os ensinamentos originais de Buda, além do conjunto de regras para a vida monástica e ensinamentos de filosofia. A corrente do Budismo Mahayana ainda reconhece como códigos sagrados os Prajnaparamita Sutras (guia de sabedoria), o Lankavatara (revelações em Lanka) e o Saddharmapundarika (leis). A crença budista toma a reencarnação como verdade. O sistema budista de crença é baseado em quatro princípios ou verdades fundamentais: o sofrimento sempre se faz presente na vida; o desejo é a causa crucial do sofrimento; a aniquilação do desejo leva à aniquilação do próprio sofrimento; a libertação individual é atingida através do Nirvana. O Nirvana contraria-se à idéia do Samsara (o ciclo de nascimento, existência, morte e renascimento). Para os budistas, o caminho da libertação é atingido a partir do momento em que o ciclo do Samsara é quebrado. O rompimento do ciclo da vida é justamente o Nirvana, o qual pode ser alcançado através de passos: a compreensão correta, o pensamento correto, o discurso correto, a ação correta, a vivência correta, o esforço correto, a consciência correta, a concentração correta. Todos estes passos são perseguidos através da auto-disciplina e da meditação, além de exercícios espirituais.

O Budismo foi fundado na Índia em aproximadamente 528 a.C. pelo príncipe Sidarta Gautama, o Buda (o Iluminado, cuja existência estendeu-se aproximadamente de 563 a 483 a.C.), Hoje em dia, a maior concentração de seguidores budistas localiza-se na região do leste asiático). A Índia atual, na verdade, possui grande maioria hinduísta (pouco mais de oitenta por cento de sua população total).