domingo, 29 de abril de 2012

Paraíso da alma

Haverá, porventura, paraíso?
céu de repouso, ventura sem fim,
paz e harmonia, suave melodia,
anjos, arcanjos, querubins.


Após a dor, então, oh, Esperança
Deus, em Sua justeza,
nos confirmará a certeza
que o pranto derramado
há de ser compensado.



Sim, Paraíso há!
Dos desafios superados,
da fé inquebrantável,
da entrega às Suas leis...



Vem pois, coração querido,
descansar no regaço amigo
do paraíso da alma...
Do pranto da depuração
à doce paz da sublimação...

Autor: Limiro Besnosik (inspiração do espírito Tamaracá)

domingo, 22 de abril de 2012

A constituição do campo das religiões afro-brasileiras.

No campo das religiões afro-brasileiras, o candomblé se constitui em uma das vertentes mais destacadas na área urbana do Brasil. Organizado em um sistema simbólico, que funciona como um princípio de estruturação de uma experiência de ação intra-mundana e produz um ethos “enquanto sistema de esquemas implícitos de ação e de apreciação” (ibd; 146).

Com base em Weber, Bourdieu argumenta que o processo de racionalização religiosa envolve a transformação do ethos implícito em ética - conjunto sistemático e racional de normas explícitas. A ação pedagógica do sistema de crença afro-brasileiro é norteada pela tradição oral de transmissão e preservação dos preceitos sagrados. Entretanto, também podemos observar no candomblé um trabalho crescente de racionalização desenvolvido por uma camada de intelectuais interna à própria religião que orienta todo o pensamento do grupo. Constituindo cada vez mais para a transformação do ethos em ética, no sentido que Weber dá ao termo.

O campo religioso tem por função específica satisfazer um tipo particular de interesse, isto é, o interesse religioso que leva os leigos a esperar de certas categorias de agentes mediadores na experiência religiosa, que realizem ações mágicas ou religiosas, ações, fundamentalmente, “mundanas” e práticas, conduzidas com a finalidade de que tudo corra bem para o corpo de fieis, que aderem a um sistema de crenças e a um estilo de vida particular.

As religiões afro-brasileiras, em particular os candomblés, se constituíram como um empreendimento de diversos agentes religiosos, que resultou na formação de um corpo de sacerdotes responsáveis pela sistematização de um ethos religioso calcado nas diversas tradições africanas. Esse corpo de especialistas detentores de um capital religioso, com um domínio prático dos esquemas de pensamento e normas e conhecimentos está incumbido de reproduzir o capital religioso.

Os pais e mães-de-santo dos terreiros de candomblé são reconhecidos como detentores exclusivos de um monopólio na gestão dos bens sagrados. Detentores de um domínio prático de um conjunto de esquemas de pensamento, somados a presença de traços africanos, em maior ou menor intensidade, passaram esses traços diacríticos a funcionar como elementos definidores de suas legitimidades e competências, necessários à produção e reprodução de um corpo deliberadamente organizado de conhecimentos esotéricos e secretos. Suas autoridades são inquestionáveis no âmbito mítico-ritual, seus perfis de liderança são desenvolvidos na dinâmica concreta dos seus terreiros, pela sua capacidade de manter a estabilidade, controlar os conflitos, de garantir o recrutamento contínuo e evitar a deserção dos membros e da clientela, processo que consolida e a prova sua legitimidade pela competência em administrar os bens sagrados.

É o pai ou mãe-de-santo que os fieis vêem como a “âncora” ou o “porto seguro” contra os perigos do universo das aflições. Os seus sucessos e fracassos vão lhes conferindo uma identidade, atribuindo uma identidade aos terreiros que administram, enquanto uma entidade reconhecida no campo religioso, que revela o resultado de suas decisões e ações, mediatizados pela rede de relações e circunstâncias que poucas vezes chegarão a controlar completamente. Desta maneira, o sacerdote e o terreiro se identificam, pois os destino de ambos estão interligados (Bruman & Martinez;1991:150).

A constituição do campo religioso afro-brasileiro implica um primeiro corte entre os detentores do controle dos bens religiosos- iyalorixás e babalorixás – e aqueles que lhes são subordinados: os abiã, iawô, egbomi, ekedes e ogãs e a clientela. Segundo Weber (1991), os sacerdotes sistematizam o conteúdo da promessa profética ou das tradições sagradas no sentido da estruturação racional-causuística e da adaptação destas aos costumes mentais ao estilo de vida de sua própria camada e daquela dos leigos por eles dominados (1991:315), processo este que é marcado por uma dinâmica de poder envolvendo alianças e negociações e por vezes conflitos abertos.

Os responsáveis pela formação e consolidação das “roças” foram uma camada religiosa, liderada pelas Iyás (mães, zeladoras) e Babás (pais) auxiliados por uma confraria hierarquizada, constituindo um corpo de especialistas socialmente reconhecidos entre os escravos e libertos, nos meados do século XIX.

Esses indivíduos se destacaram pelo seu carisma e pela posição que alguns deles ocupavam na estrutura religiosa na África; no Brasil passaram a ser reconhecidos como detentores exclusivos de uma competência, necessária a produção/reprodução e difusão do sistema de crença africano, transformado em afro-brasileiro.

O campo das religiões afro-brasileiras, em particular aquele conformado pelos terreiros de candomblé foi organizado, inicialmente, de forma cooperativista, tecendo alianças entre as etnias, que muitas vezes eram rivais historicamente no continente africano, existindo no interior dessas comunidades uma permanente ajuda mútua, trocas de favores, mantendo-se assim uma solidariedade via teias de prestações e contraprestações que terminaram “por engendrar relações mais próximas, contatos mais efetivos e afetivos, muitas vezes consolidados pelo estabelecimento de laços religiosos duradouros” (Braga;1995:60).

Essas redes de relações entre os agentes religiosos levaram a criação de organizações conventuais, estruturadas em normas e padrões étnicos, manipulando determinados sinais diacríticos (língua, culinária, sistema mitológico, rituais, etc.,), em oposição a outros sistemas de crenças, oriundos do continente africano e dos índios brasileiros.

Essas organizações conventuais são os terreiros ou roças de candomblé. São instituições resultantes da manipulação dos traços identitários das civilizações africanas que se organizaram em nações, aqui no Brasil. Desse modo, a nação não é apenas a procedência territorial (Costa Lima;1997: 77-8), mas sim todo um conjunto de padrões ideológicos e rituais.

Se o tráfico de escravos foi um fator de desagregação étnica, paradoxalmente, foi também um componente da construção de novas identidades e novas tradições na América. Essas identidades chamadas de nação adquiriram um uso suficientemente amplo para integrar diversas tradições, funcionando como uma rede, ou melhor, constituindo uma teia de alianças. O terreiro passou a condensar os valores de uma África mítica. Isso significa dizer que os Orixás na África pertenciam a localidades (grupos étnicos) diferentes e transplantados para o Brasil passam a se concentrar no mesmo território.

O terreiro (egbé) é o espaço físico impregnado de signos que revelam a consciência ancestral, não sendo apenas uma área delimitada geometricamente. No terreiro estão presente as representações do aiyé (terra) e do orum (espaço transcendental), representado nos assentamentos dos Orixás e Eguns, Exu e Caboclos. Decerto, o terreiro é o lugar pertinente a manipulação de símbolos pelos fieis que partilham uma socialização calcada na herança, conjunto de bens simbólicos que se recebeu dos ancestrais.

E foi o terreiro o expediente mais eficaz na manutenção de uma tradição re-semantizada e resimbolizada. Os terreiros de candomblé organizados enquanto uma comunidade com características próprias de área verde, representando a floresta sagrada, o barracão, salão principal das festas públicas com espaços delimitados aos membros efetivos da casa e à assistência, as áreas sagradas destinadas à iniciação e reclusão dos neófitos, as casas dos Orixás, como pode ser visto atualmente, se constituíram como informa a literatura etnográfica afro-brasileira (Carneiro, 1948; Costa Lima, 1977) no primeiro quartel do século XIX. Como nota Serra (1995:33) os cultos afros já eram realizados há bastante tempo e a indicação de uma faixa temporal, por certo, se refere à criação de um modelo de culto dominante.

Autor: Fábio Lima (professor, escritor e meu amigo!!)

domingo, 15 de abril de 2012

Obesidade Mental

Significado de sensaboria: s. f. Fam. Ato ou acontecimento desinteressante, sem atrativos; insipidez.
*Prof. Andrew Oitke *

"O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades."

O professor Andrew Oitke publicou o seu polêmico livro "Mental Obesity", que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral.

Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna.

"Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada. Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses."

Segundo o autor, a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada.

Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema. Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação.

O problema central está na família e na escola. Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate.

Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas. Com uma "alimentação intelectual" tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção... é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada.

Um dos capítulos mais polêmicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma: "O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."

O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polêmico e chocante. Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais. Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura.

O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem teto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve. Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam por que. Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto.

As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras. Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil... paradoxal ou doentia. Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo.

Sensaboria: pra quem, como eu, não sabia o significado. Ato ou acontecimento desinteressante, sem atrativos; insipidez.

Não se trata de uma decadência, uma "idade das trevas" ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa, sobretudo, de "Dieta Mental."

Dalton Campos Roque – www.consciencial.org

O texto foi enviado por Vandilson Soares. Obrigado, querido!

domingo, 8 de abril de 2012

A conversão de Barrabás.

Recebi um email do amigo Vandilson Soares com esse vídeo e faço questão de compartilhar com vocês. Apreciem sem moderação!

domingo, 1 de abril de 2012

Sustentabilidade Espiritual

Por conta da nossa forma equivocada de exploração daquilo que a natureza nos proporciona, temos discutido intensamente, com muita necessidade, acerca da utilização sustentável dos recursos naturais, a chamada sustentabilidade que, segundo o dicionário, refere-se à qualidade ou condição daquilo que tem condições de se sustentar, se conservar ou se manter (1).
Descuidamos dos nossos recursos hídricos, desmatamos as nossas florestas, consumimos mais alimentos do que precisamos, enquanto outros não têm sequer o que comer. Por todos esses motivos, faz-se necessária essa preocupação atual com o futuro do nosso planeta. O Livro dos Espíritos, na sua terceira parte, toca no assunto quando fala nas leis de conservação e de destruição.
Concordando com a temática e, aproveitando a utilização do termo, acredito que há recursos - talvez os mais importantes deles – aos quais precisamos dar maior atenção a sua sustentação e conservação. São estes os chamados recursos espirituais. Assim, que tal falarmos sobre a sustentabilidade espiritual?
Sustentabilidade Espiritual significa a sua forma de manter, de conservar, depois de adquirida essa consciência, a sua interação espiritual com as forças universais onde estamos todos inseridos. Significa a sua interação inteligente com os potenciais divinos dos quais somos portadores, a percepção de que somos espíritos imortais que prosseguem e não um ser material que um dia deixará de existir.
Com a sustentabilidade espiritual vamos tratar dos recursos éticos e morais que forçosamente formarão os recursos espirituais. Recursos esses inesgotáveis, mas que precisam ser vivenciados com sabedoria, discernimento e muito trabalho para que possam ser aproveitados em toda a sua plenitude.
Estamos prontos para a espiritualidade? Claro que sim, afinal somos espíritos! Alguém pode responder: mas será que nos lembramos disso em todas as nossas atitudes diárias conosco, com o próximo e com Deus? Será que aproveitando essa compreensão espiritual da vida estamos buscando ser os homens de bem?
Neste momento de sérias modificações planetárias, precisamos estar despertos para a importância da educação moral, e não só da intelectual. Precisamos nos empenhar nos valores éticos de cada sociedade, mas, sobretudo, na ética cristã, termos que, apesar de bastante falados e debatidos desde sempre, necessariamente não são vivenciados como deveriam, diante de todos os exemplos dos grandes avatares que temos conhecimento nas mais diversas religiões.
Desde sempre se discute a melhor forma de nos melhorarmos e a resposta, forçosamente, remete-nos a lembrança da velha instrução do Delfos (2). O que fizemos até o momento? Muita coisa mudou, é bem verdade, mas acredito que podemos fazer muito mais do que foi feito até agora.
Ética e moral não são valores objetivos; variam de acordo com cada agrupamento social e momento histórico, mas quando se fala em espiritualidade, a coisa muda de figura, sendo imutável com o passar dos séculos. Sustentamos aquilo que acreditamos? Você acredita em Deus ou tem certeza de Deus? Acreditamos na frase do Mestre Nazareno: “vós sois deuses (3)”? O que falta para colocar toda essa potencialidade divina pra fora, ajudando a nós e aos que nos circundam, encarnados ou não?
Não devemos esquecer de que tudo o que discutimos deve ser embasado em requisitos inabaláveis, assim como a fé que deve deixar de ser cega para ser raciocinada, pelo simples fato que só o que é raciocinado sobrevive ao tempo e as intempéries.
Pensemos com carinho e esforcemo-nos para colocar em prática tudo o que falamos, a fim de não nos tornamos profetas das palavras mortas, esvaziadas no sentido e na significância.
Na sua passagem pela Terra, Jesus conduziu-nos por um caminho seguro de encontro à Divindade, sustentando a nossa espiritualidade nos valores integrais do ser, herdeiros de Deus. Acreditemos nisso hoje e sempre.
Sustentar o espírito é estar fortalecido em valores inquestionáveis em qualquer tempo e qualquer sociedade, encarando todos os problemas da matéria com a certeza do amanhã diferente e da regeneração que nos espera.
Uma proposta: trabalhemos a sustentabilidade espiritual em nós, e naqueles que estão ao nosso redor, de forma tranquila, segura e verdadeira e vamos ver, com o passar do tempo, que todas as outras formas de aproveitamento sustentável dos recursos naturais serão cumpridas por acréscimo. Aceitam o desafio?

Autor: Ivan Cézar
Revisão: Maíra Loiola

(1) Dicionário Priberam: www.priberam.pt
(2) Oráculo onde os gregos colocavam questões aos deuses
(3) João 10:34 / Salmo 82:6