domingo, 29 de julho de 2012

Desastres naturais, violências humanas

O tornado nos Estados Unidos destrói casas assim como tsunami no Japão.
Os suicidas enlouquecidos matam em escolas, mesquitas, shopping centers, igrejas, ruas.
Há desastres naturais: a Terra é um planeta vivo.
Há movimento de ventos, de águas, de terras.
Movimentos internos, sutis, que nos parecem tão fortes e violentos.
Há violências humanas: ódios, traumas, vinganças, poder, descontrole.
Movimentos internos dos ventos nos corpos, nas mentes. Movimento dos líquidos, dos sólidos.
Movimentos grosseiros, fortes, violentos.
Mas há a ternura, há o cuidado, há o sol suave no céu azul e nas planta verdes brilhantes.
Cada gotícula de orvalho se dissolve. Os pássaros cantam, voando amarelo, azul canário, verde periquito.
Nuvens brancas passageiras, se movem e as folhas dos coqueiros, das goiabeiras, mangueiras balançam suavemente.
Há praias mansas, de águas translúcidas.
Há praias bravas de águas revoltas.
Depois do tsunami o mar do nordeste japonês está calmo. Os escombros amontoados são aos poucos transformados, remexidos, preparados para a renovação.
Depois das violências no Realengo, no Rio, há uma calma tristonha pelos corredores e salas de aulas. Alunos, alunas, professores e professoras precisam continuar seu aprendizado. Há uma reflexão, talvez, sobre acolhida e rejeição.
Os noticiários procuram entender os assassinos.
Pesquisam suas vidas, suas casas, seus textos e interesses.
Queria pesquisar também as vítimas – as meninas que eram lindas e tinham suas vidas, suas casas, seus textos e seus interesses.
Queremos sempre saber as causas para evitar que os acidentes ocorram.
Há sismógrafos, há seguranças, há sistemas de proteção e prevenção. E se tudo falhar, como falhou? A lágrima é de água e sal.
O que fazer do vento a mais de duzentos quilômetros por hora?
O que fazer das águas a mais de oitocentos quilômetros por hora?
O que fazer do descontrole emocional, da loucura a milhares de quilômetros por hora?
Países em lutas internas. Humanos matando humanos. Humanos matando a natureza. A vida destruindo a vida.
Renova ação.
Recupera ação.
Nos sentimos irmanados no sofrimento e na dor.
Assim como no Japão, norte americanos fazem uma fila e passam sacos de areia tentando minimizar a invasão dos rios nas casas, nas ruas, nas almas dos seres.
Podemos sim fazer muitas coisas.
Podemos nos unir e reconstruir casas e cidades.
Podemos nos unir e descobrir como controlar a radioatividade.
Podemos nos unir e descobrir como funciona a mente humana.
Podemos nos unir e cultivar um bem muito maior do que as limitações das religiões mal compreendidas, das filosofias não entendidas, dos propósitos mal acabados, das economias mal articuladas, das ambições desenfreadas.
Um mundo de ternura.
Masaru Enomoto, que fotografou moléculas de água, nos pede a orar pelas águas de Fukushima.
Perdoem-nos águas, pelas nossa ignorância e pela poluição radioativa. Nós amamos você água sagrada que permeia toda a Terra.
Pensamentos de amor, de cuidado, de ternura.
Circulando.
Acreditando.
Chega de violências humanas. Já nos bastam as da grande natureza. Esta sim, não com raiva, não por rancor ou vingança. A Terra se move, o pluriverso está vivo.
Sentimentos humanos precisam ser entendidos, transformados, cultivando o pensamento maior de fazer o bem a todos os seres.
Isso é treinamento, prática incessante.
Nas escolas, nas casas, nas televisões, nas internets. Um processo coletivo, emergencial.
Por que divulgar tanto o mal?
Por que não divulgar o bem?
A alegria do nascimento, a renovação de Kobe, de Hiroshima. As plantas, os pássaros, as crianças correndo livres.
Cabe a nós, a cada um e cada uma de nós, a nos religarmos à beleza da vida.
Cabe a nós, a cada um e a cada uma de nós, a construir uma cultura de paz.
Comecemos com humildade em atitudes simples, como as pessoas do Japão dividindo alimentos, tristezas e esperanças.
Há tanto a ser feito.
Faça o seu melhor em cada momento.
Perceba as emoções prejudiciais – inveja, ciúmes, raiva, rancor.
Despeje sobre elas algumas gramas de amor, compreensão, sabedoria e compaixão.
Seja a transformação que quer no mundo.
Menos armas, menos munição, menos medo, menos reclamação.
Vamos colocar nossa energia de vida em bem da própria vida?
Sorria, o coelhinho está na lua, trabalhando, suando, batendo o motchi (bolinho de arroz especial).
Confie e aprecie a vida.
Mesmo na dor, mesmo na perda, há sempre uma nova partida.
Que os méritos de nossas práticas se estendam a todos os seres e que possamos todos e todas nos tornarmos o Caminho Iluminado.
Mãos em prece

Autora: Monja Coen

domingo, 22 de julho de 2012

O Caminho da Transmutação

É preciso que a rocha se transforme em pedra preciosa, que a erva seja árvore, que o animal desperte para a humanidade, que o humano se despoje para deixar surgir o iniciado, semelhante aos Irmãos das estrelas...

É preciso que o anjo desabroche em arcanjo, que do planeta brote um sol e, finalmente, que o sol se glorifique num fogo cósmico central. Isso se realizará primeiro por uma eterização da matéria e das consciências ao nível de nosso universo, fenômeno consecutivo a uma purificação externa e interna de cada forma de existência.

Tudo tem a ver com o nível de consciência, o resto não passa de uma aplicação deste princípio, meus irmãos. [...]

Nunca vos esqueçais disso, meus Irmãos, não vos esqueçais de ver grande, porque tudo é grande. O pequeno só tem significado na prisão de consciências reduzidas, que vosso amor seja grande, pois ele é a única força inextinguível que tudo envolve. Compreendei, finalmente: os mundos que brilham diante de vós, dos quais apenas vedes a casca mais vulgar, são os órgãos do corpo do meu Pai.

O Homem perfeito não é outro senão meu Pai e vós sois seus filhos, porque sois as partículas do seu corpo. Meu Pai vos chama para Ele a fim de crescerdes incomensuravelmente em consciência e vos tornardes outros homens perfeitos, criadores de mundos... [...]

Sabei, de agora em diante, tomar consciência de cada uma das células de vosso corpo; identificai-vos com elas e fazei com que venham a identificar-se convosco. Na verdade, não deveria existir diferença entre ela e vós. Através deste conhecimento, através principalmente do amor, fazei a partir de agora brilharem com toda sua luz os sete sois fundamentais do vosso corpo, que eles sejam os sete sinais e as sete igrejas de vossa aliança com ele. Este é o caminho real da Transmutação! [...]

Autores: Meurois-Givaudan

domingo, 15 de julho de 2012

Entrevista com Jean-Yves Leloup - De onde vem a Paz

- Vivemos um momento mundial de crise e conflito, com guerras, atentados, solidão, miséria, abandono. Diante disso, o senhor é pessimista ou otimista?

Sou realista. Acredito que essa época nos desafia a ficarmos lúcidos, a recusar todas as ilusões, porém sem perder a noção de que as mais sublimes qualidades sagradas - o amor, a esperança, a ternura, a compaixão - habitam cada um de nós, mesmo os que vivem nas condições mais desfavoráveis. A transformação do mundo começa pela transformação do ser humano por meio da educação e de uma visão global. Isto é, a todo instante, a cada escolha, temos de ter consciência de que tudo está interligado, que não se pode arrancar um tufo de grama aqui sem incomodar a estrela que está a milhares de quilômetros no céu, acima de nós.

- Como é possível perder as ilusões e não desesperar?

Vivendo no momento presente. Num dos encontros que tive com o Dalai-Lama, perguntei a ele o que é o nirvana e ele me respondeu: "É ver as coisas como elas são". A mesma sabedoria é encontrada no Evangelho em que Jesus dizia: "Isto é, isto é", nos convidando a viver sem acrescentar adjetivos, sem nos iludirmos, mas encarando o que está diante de nós como incentivo para seguir. Não podemos ficar apegados ao que queremos ver, m as enxergar bem a realidade, mesmo a mais cruel, como ponto de partida para ir mais longe.

- Para viver no presente, é preciso prestar atenção. Esse é justamente o tema do seu livro A Arte da Atenção (Editora Verus). Mas a maioria de nós é desatenta em relação às outras pessoas, a si mesmo, ao que está ao redor...

A atenção é a união do coração com a inteligência. A falta dessa conexão é o sinal mais concreto de que algo se quebrou na essência do ser humano. As causas são múltiplas - o estresse, o excesso de informação e de barulho são algumas delas. E de novo a atenção é o jeito de sair dessa roda-viva e de estar mais equilibrado.

- Como isso é possível?

Primeiro, estimulando os cinco sentidos: tato, olfato, audição, visão, paladar. Tocar, andar descalço, sentir a terra é uma das infinitas formas de fazer com que a mente, o corpo e as emoções estejam presentes no mesmo lugar, no mesmo instante. Depos, é preciso usar os sentidos para perceber o que está além deles - por exemplo, sentir que o silêncio faz parte da música, o que é dito nas entrelinhas, o que é invisível e tão concreto como a fé ou o amor. Assim é possível estar aberto a uma percepção mais verdadeira de tudo o que nos cerca.

- Por falar em amor, estamos numa era marcada pelo desencontro entre homens e mulheres, pelo conflito nas relações e pela solidão. Como é possível reverter isso?

De novo, a resposta é: pelo caminho da atenção. Só com ela, e não com a ilusão, podemos reconhecer que a outra pessoa existe e que não vai corresponder completamente à imagem que eu espero dela. Um dos dramas do homem contemporâneo é a perda da conexão com o coração. O sexo foi desconectado do sentimento, e isso causa muita nostalgia e desconforto. Amar supõe maturidade para não consumirmos o outro como um objeto de prazer, como se fôssemos grandes bebês, sugando matrizes de afeto.

- Mas, acredito, nada orientado por esse senso de satisfação imatura pode ser confundido com o amor.

Começa por aí, a criança ama sua mãe e a come. O que é bonito num bebezinho é menos apreciável em pessoas de 30, 40, 50 anos, não é?

- O que o senhor diria para quem está vivendo uma crise conjugal ou a solidão?

Para amar, temos de reconhecer que nós não sabemos amar, que é preciso experiência de uma vida inteira para aprender isso. E também conhecer a si mesmo, estar sozinho sem tristeza ou ansiedade.

- Então, fazer um pouco de silêncio por dia já ajudaria?

Isso não é apenas bom, mas necessário. O homem não vive apenas de pão. Vive também de ternura e desse alimento do ser profundo que é o silêncio. Por meio dele, podemos diminuir as expectativas sempre frustradas de que o amante (ou tudo ao seu redor) vá preencher nossas lacunas. Além disso, antes de amar alguém é preciso se aceitar e reconhecer os próprios limites. Não há amor sem humildade. No Cântico dos Cânticos, uma ode ao amor, escrita por Salomão, no Velho Testamento, o Bem-Amado diz à Bem-Amada: "Se não fores quem tu és, como poderemos nos encontrar?"

- E quanto às nossas tantas ilusões a respeito do par perfeito, dos encontros cinematográficos. Elas não são um vício?

Sim, acredito que produzimos muitas ilusões, desilusões e sofrimentos porque temos uma imagem idealizada do homem, da mulher, do romance. Isso impede o encontro real, verdadeiro.

- O senhor afirma que a paz no mundo depende de que ela exista entre homens e mulheres. Por que?

Em hebraico, a palavra paz é shalom, que significa ser inteiro. Nós não estamos em paz porque não somos inteiros. Muitas vezes a cabeça quer dominar tudo, desconfia do coração e dos sentidos. Algumas vezes é o sexo que sobe à cabeça e se sobrepõe à razão e ao sentimento. Não é fácil essa integração, mas podemos tentar juntar a intuição e a razão, qualidades masculinas e femininas, trabalho e descanso em nossas rotinas.

- O que perdemos quando o sexo é dominado pela razão?

A chance de aproveitar a intimidade de forma mais plena e sagrada. O Evangelho escrito por Felipe, apóstolo do Cristo, fala do sexo como a mais profunda comunhão do sopro divino, que resulta na fecundação, na possibilidade de uma nova vida. E isso não tem nada a ver com pecado, culpa ou jogo de poder. O famoso Kama Sutra - tratado sexual indiano, escrito cerca de 300 anos antes de Cristo - foi censurado pela Igreja, porém, em vez de suprimir desenho com as posições de cópula, o que foi omitido da versão original foram, justamente, os textos sagrados que acompanhavam cada imagem e foram julgados como profanos. E hoje, décadas depois da Revolução Sexual, podemos ter mais liberdade, no entanto, ainda não encaramos o sexo como um ritual divino - e isso também é fundamental para reconquistar a inteireza de corpo, mente e coração.

- Temos mais medo da vida ou da morte?

Temos medo de amar, pois, se amamos, arriscamos a vida. O medo de morrer é proporcional ao medo de viver. Alguém que não tem medo de viver, sobretudo, alguém que não tem medo de amar, não tem medo de morrer.

- Pensar em morrer já dá medo!

Aquele que tem consciência da morte é maior que a morte e não vítima dela. Apenas aquele que tem consciência da doença pode buscar a cura. O LIvro Tibetano dos Mortos ensina a ver a morte como uma ocasião de despertar, não somente para ele, mas para os que continuam vivos. Nessa atitude, o ser humano torna o dom da vida mais forte que a morte.

- O senhor acredita em milagres?

Santo Agostinho (354-430) dizia: "Os homens se surpreendem porque o Cristo transformou água em vinho. Mas vejam, é isso que faz a vinha todos os anos. Se surpreendem porque o Cristo ressuscitou os mortos. Mas perceba que há 30 anjos não estavas nem vivo." Isso quer dizer que somos tão cegos diante dos milagres do quotidiano que precisamos de fatos extraordinários para despertar. Mas, se soubermos ver o que vemos, tudo será milagre. Estar vivo para experimentar mais um dia é um milagre e não algo banal. Isso fica mais claro nas palavras de santa Tereza d'Ávila (1515-1582): "No dia em que as panelas da cozinha forem tão sagradas quanto os vasos dos altares, o sagrado estará na Terra e em cada gesto do quotidiano."

Revista Bons Fluidos (Brasil) - Dezembro 2002

domingo, 8 de julho de 2012

O Iluminado

Terminado os seus trabalhos de Onilateração, o Iluminado, uma vez sensibilizado, desperto e renascido, volveu o seu pensamento para Deus e disse:

- Pai! Estou de pé e à Ordem, pronto e mais do que só esperando, para trabalhar com a humanidade, em Seu nome segundo Seus desígnios; Seu plano; Suas metas; Suas estratégias; Sua logística.

Deus volveu-Se para ele e perguntou, afirmando:

- Sois iniciado?

Ele respondeu:

- Para isso renasci, Pai.

Deus insistiu da mesma forma:

- Foste elevado?

O Iluminado apontou:

- Para isso evolui, Pai.

Daí Deus indagou como das formas anteriores:

- Quais são os deveres de um Ser humano que deve empreender para fazer de si mesmo um Ser Humano mais do que humano? Enfim, quais são os deveres de um iniciado que já foi elevado?

O Iluminado não titubeou:

- Libertar-se de todos os preconceitos humanos, naturais e espirituais, através do conhecimento de si mesmo e das Leis Universais, principalmente a Lei de Necessidade, Pai.

Deus continuou:

- Estás seguro disto?

- O Iluminado respondeu:

- A Vossa Luz me Ilumina, Pai.

Deus, como quê cheio de "orgulho", considerou:

- Conserva-te assim filho e bom retorno; mas lembre-se que só me verás como idêntico!

Daí o Iluminado consumou:

- Melhor do que retornar é sempre ver o Senhor em tudo, a partir de mim mesmo, Pai, pois Eu Sou o que Sou.

A Arca - p. 1327

domingo, 1 de julho de 2012

A FELICIDADE DE BEZERRA DE MENEZES

(Diálogo entre Divaldo Franco e Bezerra de Menezes)

Um dia perguntei ao Dr. Bezerra de Menezes qual foi a sua maior felicidade quando chegou ao plano espiritual. Ele respondeu-me:

- A minha maior felicidade, meu filho, foi quando Celina, a mensageira de Maria Santíssima, se aproximou do leito em que eu ainda estava dormindo e, tocando-me, falou suavemente:

- Bezerra. Acorde, Bezerra!

Abri os olhos e vi-a, bela e radiosa.

- Minha filha, é você, Celina?!

- Sim, sou eu, meu amigo. A Mãe de Jesus pediu-me que lhe dissesse que você já se encontra na Vida Maior, havendo atravessado a porta da imortalidade. Agora, Bezerra, desperte feliz.

- Chegaram os meus familiares, os companheiros queridos das hostes espíritas que me vinham saudar. Mas, eu ouvia um murmúrio, que me parecia vir de fora. Então, Celina, me disse:

- Venha ver, Bezerra.

Ajudando-me a erguer-me do leito, amparou-me até uma sacada, e eu vi meu filho, uma multidão que me acenava com ternura e lágrimas nos olhos.

- Quem são, Celina? - perguntei-lhe - não conheço a ninguém. Quem são?

- São aqueles a quem você consolou, sem nunca perguntar-lhes o nome. São aqueles Espíritos atormentados, que chegaram às sessões mediúnicas e a sua palavra caiu sobre eles como um bálsamo numa ferida em chaga viva; são os esquecidos da terra, os destroçados do mundo, a quem você estimulou e guiou. São eles, que o vêm saudar no pórtico da eternidade...

E o Dr. Bezerra concluiu:

- A felicidade sem lindes existe, meu filho, como decorrência do bem que fazemos, das lágrimas que enxuga­mos, das palavras que semeamos no caminho, para atapetar a senda que um dia percorreremos.

Extraído do Livro “O Semeador de Estrelas” de Suely Caldas Schubert