domingo, 25 de agosto de 2013

Jornada


Fui átomo, vibrando entre as forças do Espaço,

Devorando amplidões, em longa e ansiosa espera...

Partícula, pousei... Encarcerado, eu era

Infusório do mar em montões de sargaço.



Por séculos fui planta em movimento escasso,

Sofri no inverno rude e amei na primavera;

Depois, fui animal, e no instinto da fera

Achei a inteligência e avancei passo a passo...



Guardei por muito tempo a expressão dos gorilas,

Pondo mais fé nas mãos e mais luz nas pupilas,

A lutar e chorar para, então, compreendê-las!...



Agora, homem que sou, pelo Foro Divino,

Vivo de corpo em corpo a forjar o destino

Que me leve a transpor o clarão das estrelas!...


Adelino da Fontoura Chaves e Chico Xavier. Antologia dos Imortais

domingo, 18 de agosto de 2013

A quem interessar possa...

“Tudo é lícito, mas nem tudo convém”.
Paulo – 1 Coríntios.

Classifico como interessantes alguns chamados que nós palestrantes (oradores, tribunos e afins) espíritas recebemos para realizações de trabalhos em algumas casas – poucas, é bem verdade – que têm uma forma sui generis de conduzir as suas tarefas. Refiro-me ao incômodo que sinto nos convites feitos pelas instituições do tipo citado anteriormente: parece que querem um robô repetidor de palavras, uma espécie de marionete.
Algumas vezes recebemos e-mails ou telefonemas que, além dos convites, trazem instruções para que sigamos o material de pesquisa disponibilizado, tendo o cuidado de não fugir um milímetro. Enviam, outras vezes, a palestra praticamente pronta, sob o pretexto ora intrínseco, ora declarado de não correr o risco de ser abordado aquilo que “o público” não se interessa em ouvir.
Penso eu, alguém me corrija se estiver equivocado, que quando somos gentilmente convocados por estas instituições é por dois motivos básicos: ou trata-se de um teste para saber se o nosso conteúdo é condizente com os postulados da doutrina kardequiana; ou é pelo fato de já terem nos assistido anteriormente e, de alguma forma, comprovarem que já apresentamos condições para falar nesta ou naquela casa.
Nós, palestrantes, intimoratos que sobem nos palanques da vida sabendo estarmos propensos a todo tipo de julgamento (construtivos ou maldosos), devemos estar sempre muito agradecidos com tais oportunidades. Não podemos esquecer que os maiores beneficiados, antes dos que escutam, são os que falam, justamente pelo fato de termos a preocupação e o bom senso de pesquisar, estudar, ler, reler o trabalho proposto até que estejamos prontos para o desiderato cristão. Pelo menos é o que se espera daqueles responsáveis com a tarefa de divulgação do Espiritismo.
Peço perdão aos que, por algum motivo, se ofenderem – natural em nós, criaturas humanas frágeis – contudo sinto-me, verdadeiramente, invadido por esse tipo de conduta.
Aos dirigentes, diretores, coordenadores, consultores, etc., doutrinários (função que exerci com muita honra e gratidão durante dois anos no Centro Espírita Lar João Batista[i]) solicito um pouco mais de cuidado e, por que não dizer, respeito com quem convida para as reuniões doutrinárias.
Acredito ser absolutamente lícita a preocupação com o que se é propagado em nome do Espiritismo, inclusive por perceber que alguns de nós, de forma leviana e personalista, incluímos no trabalho conceitos outros que fogem da proposta da doutrina, mas seria conveniente?
O departamento doutrinário, para quem ainda não percebeu, é o mais importante de uma instituição espírita comprometida com a mensagem consoladora que nos cabe, mas chegar ao ponto de orientar que seja feito assim ou assado, que seja dito isto ou aquilo, é realmente demais para mim. Fico imaginando qual será o próximo passo... Seria dizer a roupa que devemos nos apresentar? Oremos!
Não nos esqueçamos de Leon Denis quando afirmou num passado não muito distante: “O Espiritismo será o que dele fizerem os homens”[ii]. Reflitamos sobre o que estamos fazendo da Doutrina Consoladora.

Abraços fraternais.

Ivan Cézar



[i] Instituição Espírita fundada em 1980 sediada em Salvador
[ii] No Invisível – Página 08

domingo, 11 de agosto de 2013

A missão de ser pai

582. Pode-se considerar como missão a paternidade?

“É, sem contestação possível, uma verdadeira missão. É ao mesmo tempo grandíssimo dever e que envolve, mais do que o pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro. Deus colocou o filho sob a tutela dos pais, a fim de que estes o dirijam pela senda do bem, e lhes facilitou a tarefa dando àquele uma organização débil e delicada, que o torna propício a todas as impressões. Muitos há, no entanto, que mais cuidam de aprumar as árvores do seu jardim e de fazê-las dar bons frutos em abundância, do que de formar o caráter de seu filho. Se este vier a sucumbir por culpa deles, suportarão os desgostos resultantes dessa queda e partilharão dos sofrimentos do filho na vida futura, por não terem feito o que lhes estava ao alcance para que ele avançasse na estrada do bem.”

O Livro dos Espíritos - Allan Kardec

domingo, 4 de agosto de 2013

O Desapego

O amor é a única libertação do apego. Quando você ama tudo, não está preso a nada.

Na verdade, o fenômeno do apego precisa ser entendido. Por que você se agarra a algo? Porque tem medo de perdê-lo. Talvez alguém possa roubá-lo. Seu medo é de que amanhã você não possa ter o que tem hoje.

Quem sabe o que acontecerá amanhã? A mulher ou o homem que você ama… qualquer movimento é possível: vocês podem se aproximar ou podem se distanciar. Vocês podem novamente se tornar estranhos ou podem ficar tão unidos que não seria correto dizer nem mesmo que vocês são duas pessoas diferentes; é claro, existem dois corpos, mas o coração é um só, a canção do coração é uma só e o êxtase os envolve como uma nuvem.

Vocês desaparecem nesse êxtase: você não é você, ela não é ela. O amor passa a ser tão total, tão grande e irresistível que você não pode permanecer você mesmo; você precisa submergir e desaparecer.

Nesse desaparecimento, quem se prenderá, e a quem? Tudo é. Quando o amor desabrocha em sua totalidade, tudo simplesmente é. O receio do amanhã não surge, daí não surgir a questão do apego.

Todas as nossas misérias e sofrimentos não são nada mais do que apego. Toda a nossa ignorância e escuridão é uma estranha combinação de mil e um apegos. Nós estamos apegados a coisas que serão levadas no momento da morte, ou mesmo, talvez, antes. Você pode estar muito apegado a dinheiro, mas você pode ir à bancarrota amanhã. Você pode estar muito apegado a seu poder e posição, mas eles são como bolhas de sabão. Hoje eles estão aqui; amanhã eles não deixarão nem um traço. (…)

Todas as nossas posições, todos os nossos poderes, nosso dinheiro, nosso prestígio, respeitabilidade são todos bolhas de sabão. Não fique apegado a bolhas de sabão; senão, você estará em contínua miséria e agonia. Essas bolhas de sabão não se importam por você estar apegado a elas. Elas continuam estourando e desaparecendo no ar e deixando-o para trás com o coração ferido, com um fracasso, com uma profunda destruição de seu ego. Elas o deixam triste, amargo, irritado, frustrado. Elas transformam sua vida num inferno.

Compreender que a vida é feita da mesma matéria que os sonhos é a essência do caminho. Desapegue-se: viva no mundo, mas não seja do mundo. Viva no mundo, mas não permita que o mundo viva dentro de você. Lembre-se que ele é um belo sonho, porque tudo está mudando e desaparecendo.

Não se agarre a nada. Agarrar-se é a causa de sermos inconscientes.

Se você começar a se desprender, uma tremenda liberação de energia acontecerá dentro de você. A energia que estava envolvida no apego às coisas trará um novo amanhecer ao seu ser, uma nova luz, uma nova compreensão, um tremendo descarregar – nenhuma possibilidade para a miséria, a agonia, a angustia.

Ao contrário, quando todas essas coisas desaparecem, você se encontra sereno, calmo e tranquilo, numa alegria sutil. Haverá um riso no seu ser. (…)

Se você se tornar desapegado, você será capaz de ver como as pessoas estão apegadas a coisas triviais, e quanto elas estão sofrendo por isso. E você rirá de si mesmo, porque você também estava no mesmo barco antes. O desapego é certamente a essência do caminho.

Autor: Osho