domingo, 22 de junho de 2014

Dor e Coragem

Na Terra todos temos inimigos. Todos, sem exceção. Até Jesus os teve. Mas isso não é importante. Importante é não ser inimigo de ninguém, tendo dentro da alma a dúlcida presença do incomparável Rabi, compreendendo que o nosso sentido psicológico é o de amar indefinidamente.

Estamos no processo da reencarnação para sublimar os sentimentos. Por necessidade da própria vida, a dor faz parte da jornada que nos levará ao triunfo.

É inevitável que experimentemos lágrimas e aflições. Mas elas constituem refrigério para os momentos de desafio. Filhos da alma, filhos do coração!

O Mestre Divino necessita de nós na razão direta em que necessitamos d'Ele. Não permitamos que se nos aloje no sentimento a presença famigerada da vingança ou dos seus áulicos: o ressentimento, o desejo de desforçar-se, as heranças macabras do egoísmo, da presunção, do narcisismo. Todos somos frágeis. Todos atravessamos os picos da glória mas, também, os abismos da dor.

Mantenhamo-nos vinculados a Jesus. Ele disse que o Seu fardo é leve, o Seu jugo é suave. Como nos julga Jesus? Julga-nos através da misericórdia e da compaixão.

E o Seu fardo é o esforço que devemos empreender para encontrar a plenitude.

Ide de retorno a vossos lares e levai no recôndito dos vossos corações a palavra libertadora do amor. Nunca revidar mal por mal. A qualquer ofensa, o perdão. A qualquer desafio, a dedicação fraternal. O Mestre espera que contribuamos em favor do mundo melhor, com um sorriso gentil, uma palavra amiga, um aperto de mão.

Há tanta dor no mundo, tanta balbúrdia para esconder a dor, tanta violência gerando a dor, que é resultado das dores íntimas...

Eis que Eu vos mando como ovelhas mansas ao meio de lobos rapaces, disse Jesus. Mas virá um dia, completamos nós outros, que a ovelha e o lobo beberão a mesma água do córrego, juntos, sem agressividade.

Nos dias em que o amor enflorescer no coração da Humanidade, então, não haverá abismo, nem sofrimento, nem ignorância, porque a paz que vem do conhecimento da Verdade tomará conta de nossas vidas e a plenitude nos estabelecerá o Reino dos Céus.

Que o Senhor vos abençoe , filhas e filhos do coração, são os votos do servidor humílimo e paternal, em nome dos Espíritos-espíritas que aqui estão participando deste encontro de fraternidade.

Muita paz, meus filhos, são os votos do velho amigo,

Bezerra.

Psicofonia de Divaldo Pereira Franco, em 25 de setembro de 2011, na Creche Amélia Rodrigues, em Santo André – SP.

domingo, 1 de junho de 2014

Os vários sentidos da palavra razão

Em nossa vida cotidiana usamos a palavra razão em muitos sentidos. Dizemos, por exemplo, “eu estou com a razão”, ou “ele não tem razão”, para significar que nos sentimos seguros de alguma coisa ou que sabemos com certeza alguma coisa. Também dizemos que, num momento de fúria ou de desespero, “alguém perde a razão”, como se a razão fosse alguma coisa que se pode ter ou não ter, possuir e perder, ou recuperar, como na frase: “Agora ela está lúcida, recuperou a razão”.

Falamos também frases como: “Se você me disser suas razões, sou capaz de fazer o que você me pede”, querendo dizer com isso que queremos ouvir os motivos que alguém tem para querer ou fazer alguma coisa. Fazemos perguntas como: “Qual a razão disso?”, querendo saber qual a causa de alguma coisa e, nesse caso, a razão parece ser alguma propriedade que as próprias coisas teriam, já que teriam uma causa.

Assim, usamos “razão” para nos referirmos a “motivos” de alguém, e também para nos referirmos a “causas” de alguma coisa, de modo que tanto nós quanto as coisas parecemos dotados de “razão”, mas em sentido diferente.

Esses poucos exemplos já nos mostram quantos sentidos diferentes a palavra razão possui: certeza, lucidez, motivo, causa. E todos esses sentidos encontram-se presentes na Filosofia.

Por identificar razão e certeza, a Filosofia afirma que a verdade é racional; por identificar razão e lucidez (não ficar ou não estar louco), a Filosofia chama nossa razão de luz e luz natural; por identificar razão e motivo, por considerar que seres racionais e que nossa vontade é racional; por identificar razão e causa e por julgar que a realidade opera de acordo com relações causais, a Filosofia afirma que a realidade é racional.

É muito conhecida a célebre frase de Pascal, filósofo francês do século XVII: “O coração tem razões que a razão desconhece”. Nessa frase, as palavras razões e razão não têm o mesmo significado, indicando coisas diversas. Razões são os motivos do coração, enquanto razão é algo diferente de coração; este é o nome que damos para as emoções e paixões, enquanto “razão” é o nome que damos à consciência intelectual e moral.

Ao dizer que o coração tem suas próprias razões, Pascal está afirmando que as emoções, os sentimentos ou as paixões são causas de muito do que fazemos, dizemos, queremos e pensamos. Ao dizer que a razão desconhece “as razões do coração”, Pascal está afirmando que a consciência intelectual e moral é diferente das paixões e dos sentimentos e que ela é capaz de uma atividade própria não motivada e causada pelas emoções, mas possuindo seus motivos ou suas próprias razões.

Assim, a frase de Pascal pode ser traduzida da seguinte maneira: Nossa vida emocional possui causas e motivos (as “razões do coração”), que são as paixões ou os sentimentos, e é diferente de nossa atividade consciente, seja como atividade intelectual, seja como atividade moral.

A consciência é a razão. Coração e razão, paixão e consciência intelectual ou moral são diferentes. Se alguém “perde a razão” é porque está sendo arrastado pelas “razões do coração”. Se alguém “recupera a razão ” é porque o conhecimento intelectual e a consciência moral se tornaram mais fortes do que as paixões. A razão, enquanto consciência moral, é a vontade racional livre que não se deixa dominar pelos impulsos passionais, mas realiza as ações morais como atos de virtude e de dever, ditados pela inteligência ou pelo intelecto.

Além da frase de Pascal, também ouvimos outras que elogiam as ciências, dizendo que elas manifestam o “progresso da razão ”. Aqui, a razão é colocada como capacidade puramente intelectual para conseguir o conhecimento verdadeiro da Natureza, da sociedade, da História e isto é considerado algo bom, positivo, um “progresso”.

Por ser considerado um “progresso”, o conhecimento científico é visto como se realizando no tempo e como dotado de continuidade, de tal modo que a razão é concebida como temporal também, isto é, como capaz de aumentar seus conteúdos e suas capacidades através dos tempos.

Algumas vezes ouvimos um professor dizer a outro: “Fulano trouxe um trabalho irracional; era um caos, uma confusão. Incompreensível. Já o trabalho de beltrano era uma beleza: claro, compreensível, racional”. Aqui, a razão, ou racional, significa clareza das ideias, ordem, resultado de esforço intelectual ou da inteligência, seguindo normas e regras de pensamento e de linguagem.

Todos esses sentidos constituem a nossa ideia de razão. Nós a consideramos a consciência moral que observa as paixões, orienta a vontade e oferece finalidades éticas para a ação. Nós a vemos como atividade intelectual de conhecimento da realidade natural, social, psicológica, histórica. Nós a concebemos segundo o ideal da clareza, da ordenação e do rigor e precisão dos pensamentos e das palavras.

Para muitos filósofos, porém, a razão não é apenas a capacidade moral e intelectual dos seres humanos, mas também uma propriedade ou qualidade primordial das próprias coisas, existindo na própria realidade. Para esses filósofos, nossa razão pode conhecer a realidade (Natureza, sociedade, História) porque ela é racional em si mesma.

Fala-se, portanto, em razão objetiva (a realidade é racional em si mesma) e em razão subjetiva (a razão é uma capacidade intelectual e moral dos seres humanos). A razão objetiva é a afirmação de que o objeto do conhecimento ou a realidade é racional; a razão subjetiva é a afirmação de que o sujeito do conhecimento e da ação é racional. Para muitos filósofos, a Filosofia é o momento do encontro, do acordo e da harmonia entre as duas razões ou racionalidades.

Autora: Marilena Chaui

domingo, 11 de maio de 2014

Dia das mães

Todos os dias pertencem às mães. Nada obstante, em 1905, quando desencarnou a genitora de Anna Jarvis, uma americana da Virgínia, ela entrou em depressão, e as amigas resolveram ajudá-la a superar a perda. Em 1907 ela criou um memorial em homenagem à genitora e teve a ideia de criar o Dia das Mães. A ideia espalhou-se e terminou por tomar conta de toda a América do Norte a partir de 26 de abril de 1910.

Com o tempo universalizou-se, sensibilizando a opinião da sociedade que passou a reservar um dia no ano para homenagear esse ser especial que representa a docilidade, a mansidão, o sacrifício e a dedicação infinita.

Existem, sim, mães que não conseguiram vivenciar a grandeza da missão terrena, tornando-se negligentes, indiferentes e até mesmo perversas, mas constituem exceção. Todos mantemos recordações inapagáveis da convivência com a mãezinha na infância, na adolescência e mesmo as buscamos com ternura na idade adulta.

Elas são os anjos tutelares da vida humana, sempre dispostas ao esforço até super-humano em favor da felicidade dos filhos. Não poucas renunciam à própria alegria de viver, aos prazeres, a fim de cuidar dos rebentos carnais com que a Divindade lhes honra a existência luminosa.

Com a divulgação contínua desse sentimento de gratidão que devem ter todos os filhos, lentamente, o que deveria ser um verdadeiro culto de amor transformou-se em lucrativo empreendimento de frivolidade, retirando-lhe o de que mais belo existia no ideal de Anna Jarvis.

A celebração da data que, no Brasil, é comemorada no segundo domingo de maio, reveste-se de festividade externa, da doação de presentes de fácil aquisição, de exibição de mercado, sem a companhia do amor que deve ser a razão principal da efeméride. É lamentável a ocorrência, porque destituída de significado.

O amor é a mais dignificante dádiva que se deve conceder a esse nobre ser, sem a preocupação de oferecer-lhe as coisas materiais, embora também se possa assim proceder.

Divaldo P. Franco para o Jornal A Tarde em 08/05/2014

domingo, 27 de abril de 2014

Distúrbios e Paz

Somando-se à violência que se tornou o cotidiano de todos nós, estamos vivendo em nosso estado momentos difíceis de serem suportados. Em razão da greve de Polícia Militar, fomos, mais uma vez, surpreendidos com a agressividade por parte da população, que ultrapassou os lamentáveis acontecimentos de há dois anos... O que mais surpreende, no entanto, é constatar a dificuldade do ser humano de ser pacífico, de respeitar as direitos alheios, de manter a dignidade quando se apresenta uma situação crítica.

Pessoas aparentemente sociáveis, considerando a impunidade reinante e a falta de policiamento para a defesa do cidadão que paga impostos para ter garantidos os seus direitos, são tomadas de fúria e saqueiam supermercados e lojas, carregando tudo quanto lhes não pertence, permitindo-se praticar hediondos crimes outros, como latrocínios, homicídios, agressões... E como se isso não bastasse, ante a impossibilidade de roubar tudo quanto os olhos abarcam, incendeiam as casas comerciais, numa fúria selvagem.

Movimentam-se as pessoas ponderadas para solicitar preservação dos seus direitos de cidadania, enquanto a chacota e a roubalheira tornam-se públicas, diante dos veículos da mídia, copiando aquela outra, não menos vergonhosa, que se passa em alguns gabinetes governamentais, conforme denuncia a imprensa a todo momento.

Vive-se, realmente, um grave momento em nosso país e no mundo, quase na sua generalidade, em que o brutamontes e o astuto dão-se as mãos para a prática hedionda do crime nas suas mais variadas expressões. Quanta falta nos fazem a ética e a moral, conforme preconizadas por Jesus, especialmente numa sociedade que, aparentemente, lhe cultua a memória e participa de cultos que lhe são dedicados por diferentes seguimentos religiosos! O medo toma conta das pessoas de boa formação moral em razão da insegurança que grassa desarvoradamente. É necessário que restabeleçamos a paz social e a verdadeira fraternidade que devem viger em toda parte.

Artigo de Divaldo Franco publicado dia 24/04/2014 no jornal A Tarde.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

domingo, 30 de março de 2014

Quem és tu?


Ainda ontem pensava que não era
mais do que um fragmento trémulo sem ritmo
na esfera da vida.

Hoje sei que sou eu a esfera,
e a vida inteira em fragmentos rítmicos move-se em mim.

Eles dizem-me no seu despertar:
" Tu e o mundo em que vives não passais de um grão de areia
sobre a margem infinita
de um mar infinito."

E no meu sonho eu respondo-lhes:
"Eu sou o mar infinito,
e todos os mundos não passam de grãos de areia
sobre a minha margem."

Só uma vez fiquei mudo.
Foi quando um homem me perguntou:

"Quem és tu?"

Autor: Kahlil Gibran

domingo, 16 de março de 2014

Amai-vos...

Amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor um grilhão.

Que haja, antes, um mar ondulante
entre as praias de vossa alma.

Enchei a taça um do outro,
mas não bebais da mesma taça.

Dai do vosso pão um ao outro,
mas não comais do mesmo pedaço.

Cantai e dançai juntos,
e sede alegres,

mas deixai
cada um de vós estar sozinho.

Assim como as cordas da lira
são separadas e,
no entanto,
vibram na mesma harmonia.

Dai vosso coração,
mas não o confieis à guarda um do outro.

Pois somente a mão da Vida
pode conter vosso coração.

E vivei juntos,
mas não vos aconchegueis demasiadamente.

Pois as colunas do templo
erguem-se separadamente.

E o carvalho e o cipreste
não crescem à sombra um do outro.

Autor: Gibran Kahlil Gibran

domingo, 9 de março de 2014

Problemas não existem

Em primeiro lugar, devemos varrer da nossa mente a crença de que temos problemas. Eles não existem. O que há são oportunidades de transformação e crescimento. Problemas ou o que chamo de ´repetições negativas´ – situação destrutiva que se repete ou a sensação de estar sempre caindo no mesmo buraco – sinalizam lições que devemos aprender para o nosso próprio bem. Se sofremos diante dessa repetição e, principalmente, se ela for insistente, é porque estamos nos recusando ou resistindo a aprendê-la e, consequentemente, em assumir a responsabilidade por ela. É preciso parar de pensar que somos vítimas indefesas das ‘influências nefastas do espaço sideral’ e, com isso, banir também o jogo de acusações. Não importa onde esse aparente obstáculo está se manifestando, se é na área profissional, financeira, afetiva, sexual ou na saúde.

Apenas se abra para ouvir a mensagem que ele está querendo transmitir. Olhe para o seu mundo interior e se pergunte honestamente: ‘O que eu tenho a aprender com esta situação?´ O universo responderá à sua indagação de alguma maneira, seja em forma de sonho ou de algum acontecimento ou insight. Normalmente, a causa dos sofrimentos está ligada às insatisfações dos relacionamentos. Antes de mais nada devemos considerar a possibilidade daquela pessoa que nos perturba ser um espelho que reflete aspectos de nós mesmos para os quais não temos coragem nem maturidade de olhar e aceitar. Vendo por esse ângulo, tal pessoa é, na realidade, um mestre para nós. Isso não significa se tornar cego para os defeitos do outro (se nós temos imperfeições, por que o outro não teria, não é mesmo?), mas em se abrir para a oportunidade de aceitá-lo, apesar disso. Esse grande passo somente é possível quando paramos para refletir a respeito, pois todo o jogo de acusações, que gera o enrijecimento do coração, nasce do pensamento compulsivo.

Portanto, para perceber essas nuances, como as artimanhas das acusações e a do ‘espelho’, é necessário aquietar a mente e olhar para dentro. Claramente, você perceberá que se o seu coração está fechado para alguém, isso significa que ainda carrega a crença de que inimigos existem ou que culpa alguém pelo fato de sua vida não estar como gostaria. Esse é um dos aspectos mais sórdidos da ilusão: apontar o dedo para o outro. Se você ainda não pode assumir responsabilidade pelo que acontece na sua vida, sugiro que, no mínimo, procure renunciar ao julgamento e comece a se permitir aceitar as diferenças. Tenha sempre em mente que, quanto maior a agressividade, a arrogância, ou qualquer outro mecanismo de defesa, maior é a dor que aquela pessoa possui dentro dela. Eu acredito que crescemos espiritualmente quando nos abrimos para amar até mesmo aqueles que nos incomodam. Essa é a grande aventura da vida. Costumo também dizer que se a vida é uma escola, o relacionamento é a universidade. Lembrando que, nessa universidade, não é possível comprar o diploma ou colar para passar de ano. Nós estamos nessa escola para aprender a amar sem querer nada em troca. E sabe qual é a prova final? Deixar o outro livre, respeitá-lo, e ficar em paz até mesmo se ele não retribuir a intenção.

Autor: Sri Prem Baba
Disponível em: http://casa.abril.com.br/materia/sri-prem-baba-problemas-nao-existem

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Lazeres e Divertimentos

"Vida alegre é assinalada pelo trabalho contínuo, enriquecedor e natural. Faze do teu lar o abençoado reduto de ação e de paz"

A indústria do turismo, habilmente manipulada, vende os pacotes da ilusão, como anestésico para a consciência da responsabilidade, desviando o ser humano do seu programa de autodignificação mediante o esforço que deve ser desenvolvido através da consciência lúcida em torno dos objetivos essenciais da existência terrena.

Muitos indivíduos trabalham afanosamente acumulando recursos amoedados e o cansaço inevitável, estresse e angústia em decorrência da luta em demasia, mantendo a expectativa de fruir lazeres e divertimentos que lhes trariam reequilíbrio e alegria pura.

Afinal, o objetivo essencial do viver não é o de desfrutar as concessões artificiais que diariamente são renovadas e podem ser conseguidas mediante os recursos financeiros.

Como efeito, empenham-se para compensar a ausência física e emocional no lar, ao lado da família, pelo anseio de ganhar mais dinheiro, proporcionando-se e a todos os membros domésticos férias coletivas numa fuga psicológica da realidade do dia a dia, que é a participação dos problemas e desafios no seio dessa célula de valor ímpar que são os familiares.

À semelhança de aves gárrulas, realizando a viagem dos sonhos e do espairecimento, visitam lugares consagrados ao ócio, onde predominam a beleza das paisagens, os artefatos de alto valor tecnológico para o esquecimento dos problemas, vivenciando o mundo de fantasias e do cansaço, das caminhadas exaustivas, dos suores e dos aborrecimentos inevitáveis, esteja-se onde se estiver...

Quando se chegam aos lugares paradisíacos, passada a primeira emoção, logo se descobre que quase todo o mundo tomou a mesma decisão: escolheu o mesmo local e suas ofertas fantásticas, passando a ouvir os guias monótonos, as crianças em fase de irritação, as despesas não previstas, que pioram o orçamento, algum desencanto inicial...

Ao invés do repouso anelado defronta-se o corre-corre das filas imensas ou o silêncio dos lugares selecionados que, após algum tempo, induzem ao tédio e ao arrependimento. As promoções muito bem elaboradas magoam aqueles que não podem participar dessa festa, sentindo-se humilhados no grupo social, levando-os à depressão. Que busca, afinal, a criatura humana se não as aparências, os aplausos, a ilusão?

É claro que todo esforço prolongado culmina em cansaço e mal-estar, causando sensações de aniquilamento e de abandono. A recreação surge como estímulo renovador, capaz de proporcionar júbilo, facultando estímulos edificantes. O ser humano é possuidor de inesgotável cabedal de energias e de vitalidade.

Sucede que, fascinado pelo exterior, não se anima a autopenetrar-se, a encontrar as respostas claras para as próprias necessidades. A fantasia, que faz parte da imaginação enriquecida, convida aos voos, alguns alucinantes das conquistas consumistas ou à jornada dos problemas, quando a vida propõe os enfrentamentos que são superados pelas naturais soluções.

Nessa sofreguidão, o indivíduo não pensa na sua realidade imortal, optando pela enganosa postura de vítima necessitada de apoio, invejando os lutadores que considera como privilegiados pela vida.

Há lazeres no lar, no trabalho, na comunidade, ricos de divertimentos domésticos não desgastantes, como frutos da consciência objetiva do dever.

Se te sentes afadigado no trabalho a que te dedicas, muda a rotina, retempera o ânimo e sentirás renovação emocional, tornando-te tranquilo. Reflexiona em torno dos teus compromissos e põe-lhes o sal do amor, pensando nas metas a alcançar, especialmente quando portadoras de significado profundo.

Considera que o trabalho é bênção que deves honrar, não acalentando o anseio infantil somente de férias e de repouso.

Quem opera no bem conscientemente experimenta inefável alegria e, quando é alcançado pela estafa, transfere-se para outro tipo de ação, renovando-se e prosseguindo.

Toda ilusão, ao ser defrontada pela realidade e esfumar-se, deixa significativas marcas de desencanto. Ocorrendo-lhe a morte, alguns indivíduos também sentem o morrer das suas aspirações caracterizadas pela falsa necessidade do gozo, do prazer, do possuir...

As alegrias das férias de encantamento passam e retornam os compromissos que ficaram aguardando, esquecidos nos escaninhos da magia e do encantamento de breve duração.

Pessoas que residem nas montanhas e se entediam com as paisagens encantadoras anelam por viver à beira-mar, nas praias, onde outras que ali vivem desmotivadas pelo largo período no mesmo local sonham com os altiplanos...

Enquanto os turistas risonhos locupletam-se nos paraísos do prazer, os funcionários que os servem com sorrisos profissionais, muitas vezes interiormente irritados, acalentam o desejo, quase irrefreável, de fugir dali para outros locais onde gostariam de estar e de serem servidos.

Não acolhas a tristeza quando não possas fazer parte dos grupos sorridentes de conquistadores do mundo mágico da imaginação deslumbrada. Estabelece um programa a respeito de tudo quanto te é importante ou secundário e labora com disposição jubilosa e nenhum cansaço te amarfanhará as horas.

Preenche as tuas horas com atividades produtivas e naquelas dedicadas ao repouso e ao lazer não te desligando da realidade, prosseguindo ativo mentalmente e com emoção de felicidade.

Contempla os grupos ruidosos dos festeiros e divertidos, após as celebrações, e verás a máscara do mal-estar afivelada à face ou a aceitação para dizer aos outros como foram as alegrias, numa necessidade de exibir o ego, assim apaziguando a frustração.

Vida alegre é assinalada pelo trabalho contínuo, enriquecedor e natural.

Faze do teu lar o abençoado reduto de ação e de paz, onde a alegria seja resultado do prazer de viver e de amar.

E quando possas espairecer, mudando de ambiente, procurando lazeres e divertimentos convencionais, vive-os no seu momento próprio sem que se te façam pesada carga de despesas inoportunas ou geradoras de futuros desencantos.

Jesus até hoje trabalha, conforme acentuou, referindo-se ao Pai que nunca cessou de agir.

O cristão primitivo, no sublime trabalho da autoiluminação e da caridade, encontrava a inigualável alegria que os lazeres e divertimentos de fora jamais conseguem proporcionar.

Desse modo, mantém-te desperto, de modo que a noite da ilusão não te sombreie o dia de ação, anunciando-te júbilos que se transformam em esgares.

Joanna de Ângelis

Disponível em: www.opovo.com.br/app/opovo/espiritualidade/2012/01/28/noticiasjornalespiritualidade,2774822/lazeres-e-divertimentos.shtml

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Pensamento e destino

"Mantenha seus pensamentos positivos, porque seus pensamentos tornam-se suas palavras.
Mantenha suas palavras positivas, porque suas palavras tornam-se suas atitudes.
Mantenha suas atitudes positivas, porque suas atitudes tornam-se seus hábitos.
Mantenha seus hábitos positivos, porque seus hábitos tornam-se seus valores.
Mantenha seus valores positivos, porque seus valores... Tornam-se seu destino."



Texto atribuído a Mahatma Gandhi
Disponível em: http://mara-mariangela.blogspot.com.br/2011/01/textos-e-sabedoria-de-mahatma-gandhi.html

domingo, 19 de janeiro de 2014

Consciência - O Seu Despertar?

"Fala-se muito neste fim de século nos meios já inspirados por um novo paradigma cujas vistas estão voltados para o terceiro milênio do "Desenvolvimento de uma nova consciência"...

Na realidade esta expressão é inadequada pois esta consciência não tem nada de novo, e por conseguinte não há nada para desenvolver.

Quando falamos em Consciência, do ponto de vista holístico, nós nos referimos a um espaço luminoso, cuja característica essencial é ser consciente.

Por isto demos a este artigo o título de "DESPERTAR" e não de "desenvolvimento".

Espaço com conscencial constitui o SER a que muitos nomes de caráter divino se tem dado através dos tempos e das culturas, tais como Jahve, Deus Allah, Brahman, Tao, Natureza de Budha, e assim por diante. Mas recentemente se tem falado em Consciência Cósmica, Consciência, Universal, Espaço primordial, Consciência Transpessoal, Super Consciência, entre outros termos.

Assim sendo esta consciência tem um caráter universal, onipresente, onisciente e onipotente.

Esta consciência, pelo seu caráter de onipresença, se encontra também no ser individual, isto é de cada um de nós sem exceção. É a que chamamos de consciência individual. O termo é também usado como sinônimo de Espírito Universal e Espírito Individual ou mesmo alma Universal e Alma Individual. Por conseguinte, pelo seu caráter esterno ela não é nova.

Por esta razão demos aqui o título de despertar da consciência em vez de desenvolvimento, pois, mesmo no ser humano a consciência esta sempre aí.

Muitos vão perguntar porque não temos acesso a consciência individual, a esta presença em nós, se ela está sempre aí?

Embora sempre presente, ela está velada escondida por uma distorção dela mesma; a nossa mente, que emana dela, tende a criar uma miragem, uma ilusão, a da existência de um eu, separado dela e do mundo que se torna percebido como exterior. Cria-se então o que se chama de filosofia, a dualidade sujeito-objeto.

Esta dualidade gera por sua vez o apego ou a rejeição de coisas, pessoas ou idéias que nos causam respectivamente prazer ou dor. Isto leva ao estresse, à doença, ao sofrimento, reforçando então o distanciamento da consciência.

Podemos sair deste círculo vicioso e recobrar a consciência?

A resposta é positiva. Sim, podemos despertar deste estado de sonolência. Como? Principalmente através da meditação. Esta consiste em sentar, em posição de coluna ereta, sem rigidez; concentrando-se sobre a respiração deixa-se os pensamentos aquietar-se, até aparecer o espaço consciencial, até despertar a plena consciência.

A plena consciência é acompanhada de um estado de Paz e de Plenitude e leva a verdadeira Sabedoria e Compaixão por todos os seres ainda no estado de inconsciência."

Autor Pierre Weil
Disponível em: http://www.pierreweil.pro.br/Brazil.htm

domingo, 5 de janeiro de 2014

O Olhar Integral

No coração da sombra existe a luz. E no coração da luz existe a sombra.
A experiência do ser é a experiência do círculo que mantém os dois juntos.
O momento de repouso que fazemos é semelhante à nossa respiração.
O inspirar e o expirar é uma não-dualidade. Se só inspiramos, sufocamos, se só expiramos, morremos.

O sopro contem a inspiração e a expiração e o que é verdadeiro em nossa vida fisiológica é também verdadeiro em nossa vida psicológica.

Tornar-se adulto é passar da idade dos contrários para a idade do complementar, para um outro modo de olhar as coisas. Se alguém diz algo contrário ao que penso e sou capaz de entender esse contrário como complementar, vou crescer em consciência e em compreensão. Se em vez de rejeitar ou negar alguns elementos de minha vida obscura, sou capaz de acolhê-los, torna-me-ei mais inteiro.

A sombra é o que dá relevo à luz.

Quando amamos alguém, um dos sinais de amor verdadeiro é que amamos os seus defeitos. É fácil amar os defeitos de nossos filhos. É difícil amar os defeitos dos adultos ou de nossos cônjuges.

Esse amor de que falamos não significa complacência, não é dizer ao outro que me agrada o que ele tem de desagradável, pois isso seria mentira e hipocrisia.

O amor de que falamos é dar ao outro o direito de ser diferente. É dar a ele o direito de experimentar sua liberdade. De experimentar em mim mesmo esta capacidade de amar o que é amável e de amar, também, o que não é amável. Dessa maneira passaremos, de uma vida submissa para uma vida escolhida.

Nossa vida vale pelo olhar que é posto nela. Os olhares de juiz nos enchem de culpa. Há olhares benevolentes, misericordiosos e ao mesmo tempo, justos. Precisamos desses olhares porque todos nós temos necessidade de verdade e de sermos amados. Por vezes, os olhares que encontramos são muito amorosos, muito doces, mas falta a eles a exigência desta verdade.

Outras vezes, os olhares que se colocam sobre nós são plenos de verdade e justiça, mas falta a eles a misericórdia e o amor.

Há um olhar integral do qual temos necessidade a fim de nos vermos tal e qual somos. Porque a verdade sem amor é inquisição e o amor sem verdade é permissividade.

Estas são reflexões gerais e cada um pode entrar em particularidades que lhes são próprias, sentindo se existe em sua vida alguém que pode suportar sua sombra sem julgá-la, apesar de não se mostrar complacente com ela.

Creio que todos nós temos a necessidade, pelo menos uma vez em nossas vidas, de um tal olhar pousado sobre nós.

Nesse momento não teremos mais necessidade de mentir, de nos iludirmos, de usarmos máscaras.

Podemos mostrar nossa verdadeira face, nosso verdadeiro corpo, com seus desejos e seus medos.

Podemos mostrar nossa verdadeira inteligência com seus conhecimentos e suas ignorâncias.

Mostrar-se com o coração verdadeiro, capaz de muita ternura e também capaz de dureza e indiferença.

Mostrar-se como não-perfeito, mas aperfeiçoável.

Sob este olhar nossa vida pode crescer. Porque o olhar que nos julga e nos aprisiona em uma imagem faz-nos ficar parados, enquanto que o outro olhar nos impulsiona a dar um passo adiante desta imagem que os outros têm de nós."

Autor: Jean Yves Leloup em "Além da Luz e da Sombra"
Disponível em: http://ventosdepaz.blogspot.com.br/2013/04/o-olhar-integral-jean-yves-leloup.html