terça-feira, 29 de junho de 2010

Autoconhecimento e modificação interior

Os estudos sobre o autoconhecimento não é uma temática nova. Desde muitos séculos atrás, principalmente na Grécia antiga, verificamos a busca do homem pelo conhecimento do seu ser interior, independente do nome que se dê a este ser. Como citado por Camargo (2004, p. 19) “os filósofos gregos acreditavam que o objetivo mais elevado do ser humano era conhecer a si próprio”.

Estes pensadores da antiguidade, como Sócrates (469 – 399 a. C.), e até precendentes deste, já buscavam acalmar a inquietude em relação ao tema e nos trouxeram contribuições importantes que mais tarde foram utilizadas como referência por outros pensadores e por boa parte das religiões espiritualistas, como podemos observar em Kardec (2004, p. 355) vamos encontrar o seguinte trecho sobre o assunto “qual é o meio prático e mais eficaz para se melhorar nesta vida, e resistir aos arrastamentos do mal? – Um sábio da antiguidade vos disse: Conhece-te a ti mesmo.” Uma clara referência ao filósofo grego, citado acima, na instrução do oráculo de Delfos.

Se o assunto não é nenhuma novidade, é de se estranhar o motivo pelo qual ainda não conseguimos, na maioria, perceber que seremos capazes de modificar as nossas relações com o universo quando dermos a devida atenção ao que somos e ao que queremos ser.

De acordo com as nossas vivências pessoais, nossas experiências, nossos aprendizados, quando alcançamos a maturidade, independente da idade cronológica que tenhamos, para o entendimento correto da nossa missão conosco e com o próximo, mais nos aproximamos da necessidade de reconhecer quem realmente somos, quais os nossos vícios e as nossas virtudes, quais aspectos do nosso ser interior precisam ser melhorados ou desenvolvidos e o que precisamos fazer aflorar e o que deve permanecer em estado latente e, mais tarde, ser tratado de forma diferenciada.

Na contribuição de Novaes (2000, p. 45) verificaremos a seguinte afirmação em acordo com o exposto acima:
“somos mais do que imaginamos e percebemos que somos. Temos mais capacidades do que acreditamos que possuímos. Mesmo as pessoas que ainda se encontram no início de sua caminhada evolutiva, possuem esse sentido interior de crescimento, portanto a potencialidade de realizá-lo”.

Diante de tal afirmação, percebemos que as nossas potencialidades, declaradas ou latentes, estão localizadas no nosso ser espiritual. A necessidade de evolução do ser está diretamente ligada às nossas percepções. O caminho parece estar na descoberta dos nossos métodos individuais de aplicar/desvelar estas capacidades. O conhecimento de si é de importância sine qua non para que possamos ser os reais condutores da nossa existência, sabendo aproveitar o que possuímos de virtuoso para nós e para o próximo.

Autoconhecer-se não é um processo feito de um dia para o outro, num estalar de dedos. Não dormimos como um ser e acordamos no dia seguinte sendo outro. Numa conceituação de Novaes (2000, p. 65), veremos que “o autoconhecimento é o conhecimento de si mesmo, isto é, de como se pensa, se sente as emoções e se reage frente ao mundo”. Neste processo não há passe de mágica. Temos todos um tempo específico e individual, nesta ou em outra existência, em que despertamos para esta necessidade e passamos a colocar em prática quando assim acontece.

Sobre o autoconhecimento, mais uma vez Novaes (2000, p. 50) nos informa que “o conhecer a si mesmo é um processo que sempre foi entendido como de busca da percepção da própria natureza do ser humano e do que se é em essência”. Podemos, após uma análise inicial, nos perguntar: o que somos em essência? A razão e a verificação feita do termo espiritualidade nos direcionam a entender que somos espíritos/individualidades imperfeitos em busca da evolução e do alcance da felicidade e, a partir daí, entender o próximo, nos auxiliando na percepção da nossa existência infinita.

Devemos, caso a nossa intenção seja saber quem verdadeiramente somos, estar preparados para o conflito. Não o conflito com o outro, mas um conflito ainda mais difícil: o interior. O conflito com a nossa essência. Este sentimento de desordem talvez seja a principal ferramenta que podemos utilizar na nossa transformação. Em Franco (1993, p. 49) vamos verificar que “o homem possui admiráveis recursos interiores não explorados, que lhe dormem em potencial, aguardando o desenvolvimento”. Na administração dessas transformações, devemos permanecer em constante estado de alerta, a fim de não perder a chance de potencializar o que temos de bom e buscar modificar o que trazemos de não tão bom assim.

Importante salientar que neste processo é primordial o reconhecimento das nossas emoções, buscando impedir a utilização destas de forma inadequada, evitando que tomemos atitudes provinientes dos processos inconscientes, o que pode gerar consequências não mensuradas. Encontrar conosco é, em verdade, um grande risco, pelo fato de nos oferecer a possibilidade de aceitar os nossos problemas e decidir pela mudança, ou continuar se escondendo atrás de máscaras da personalidade, se escondendo de si próprio.

Nas abordagens vistas, percebemos que o autoconhecer nos leva a uma profunda reflexão sobre a nossa personalidade, ao encontro com a psiquê, tendo uma relação direta e firme com o (re)conhecimento das nossas falhas e o aprendizado sobre quem realmente somos, facilitando a nossa relação conosco e, consequentemente, com o próximo. No nosso interior é que está guardada a oportunidade de modificações para as nossas relações com o todo universal, razão desta busca desenfreada recente pela espiritualidade e o autoconhecimento, basta que saibamos buscar dentro de nós, e em momento oportuno, faciltando a relação mais intima com a tríade: Deus, Natureza e Homem.

Autor: Ivan Cézar

Referências:
- CAMARGO, Jason. Educação dos sentimentos. Porto Alegre: Letras de luz, 6ª ed, 2004
- FRANCO, Divaldo. O homem integral. Salvador: ed Alvorada. 4ª ed, 1993.
- KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Araras, SP: editora IDE, 154ª ed, 2004. Tradução Salvador Gentile.
- NOVAES, Adenáuer. Psicologia e espiritualdiade. Salvador: FLH, 2ª ed, 2000

3 comentários:

  1. Agora mais do que nunca se faz necessario a mudança interior, já que, a evolução está batendo a porta e não podemos mais nos dá o luxo de ficar de braços cruzados. Jesus propos uma mudança interior, mudança para o Amor. Porém, seus ensinamentos foram deturpados e as pessoas, erroneamente, estão em busca da felicidade em lugares distantes, quando na verdade está dentro de cada um de nos. O Autoconhecimento é uma coisa muito difícil, pois estamos habituados a ver os defeitos e as virtudes alheias. Entretanto, como disse o Divino Mestre, nenhuma ovelha se perderá. Todos serão despertados de acordo com suas necessidades, lembrando que a Natureza não dá saltos e tudo ocorre dentro da Programação Divina.
    PAZ, HARMONIA E EQUILIBRIO PARA TODOS.

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  2. Para mim de todas referências citadasa que mais me encanta é Conhece-te a ti mesmo. A grande dificuldade está em percebermos as nossas falhas, como ainda somos bastante egoístas e consequentemente vaidosos, toda vez que fizermos o questionamento interno, quem realmente sou, ou o que me fez agir assim, em tais situações vamos encontrar as respostas escapistas sempre na defesa do amor próprio, que é nada mais nada menos a nossa grande chaga, o egoísmo. Se não fossemos egoistas e vaidosos pensariamos um pouco mais no próximo, como ensinou Jesus e todas as filosofias religiosas versam sobre a máxima:Fazei aos outros o que gostarieis que lhes fosse feito. Assim não teríamos tantas diferenças socias campeando no mundo.Vai demorar um pouco, mas, como reencarnacionista que somos um dia chegaremos lá, aprendemos a Amar, no sentido literal da palavra, pois autoconhecimento é o desenvolvimento do Amor em essência em nossa alma.

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  3. Caro Ivan,
    penso que uma educação humana que fosse efetivamente completa tomaria por base uma investigação abrangente do funcionamento da nossa consciência. Ela implicaria no estudo de todos os aspectos da consciência, inclusive nossas predisposições e a natureza dos nossos condicionamentos, de modo que pudéssemos discriminar as camadas de confusão que foram se acumulando durante os estágios do nosso desenvolvimento no mundo físico e extra-físico. Na porta principal do Templo de Apolo, em Delphos, estava escrito: “CONHECE A TI MESMO”. Milton Nascimento imortalizou esta busca nos versos de sua canção: “Eu, caçador de mim”. Este foi, e continua sendo, o ponto de partida todas as vezes que buscamos nos confrontarmos conosco mesmos à procura da nossa identidade, nossa missão pessoal, nossa família cósmica...

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