Jonas é aquele que foi chamado um dia: “Meu filho, desperta e vai para Nínive, a cidade grande. Lá crianças estão matando crianças, jovens matam pessoas dormindo de madrugada, pais não estão nem aí com relação à juventude, todo mundo está pensando só em si... Vai para Nínive; lá a velhacaria é consagrada, os velhacos são aqueles que têm sucesso; uma pessoa pura, inocente, em Nínive, se falar num meio político, por exemplo, vai ser ridicularizada; uma pessoa honesta, pura, de bons sentimentos é motivo de riso... tem que ser esperta, tem que ser velhaca. Jonas, vai para Nínive, porque lá um jovem, se quiser demonstrar que tem um coração bom, se quiser ser bondoso, generoso, vai ser ridicularizado; tem que dar porrada! Jonas, vai para Nínive, porque esse povo está perdido; 40 dias mais e não haverá mais Nínive!” Vocês notam que essa é uma mensagem muito atual. E Jonas foi para Nínive? Não! Ele pegou um barco, mas foi para um Társis, um local tranquilo. Isso mostra, como nós temos uma tendência a fugir de nossas missões. Primeiro, há uma consciência interna que nos desperta, que nos coloca de pé. Pode ser uma crise, pode ser um terremoto, pode ser uma perda... há um momento em que você fica de pé. Porém, há sempre um convite sedutor da covardia e Jonas foge da sua própria promessa e, então, vem uma grande tempestade. Isso nos ensina que, quando você foge do seu próprio caminho atrairá tempestades; não só para você, também para as pessoas que estão ao seu lado.
A doença não é ruim; se você a escuta ela se torna um texto sagrado a ser interpretado. Ela tem uma mensagem: a doença é um fax que você recebe e que diz: “Você se desviou do seu caminho”. Eu levei muitos anos para aprender isso: quando nos desviamos do nosso caminho nós atraímos doenças, acidentes, nós atraímos infelicidade. Acontece que vivemos num momento tão perdido que dizemos "tomou doril..." Não interpretamos e o telefone continua tocando; às vezes em outros números até que pode ficar tarde demais. Então, Jonas que estava dormindo no porão do navio, novamente foi colocado de pé pelo capitão que indaga por que ele não está clamando por seu Deus, como todos os outros. Jonas era um fujão, mas era, também, um homem sincero que me faz lembrar o poeta Omar Khayyan que inicia o seu Rubaiyat dizendo: "Todos sabem que meus lábios nunca murmuraram uma oração. Não procurei nunca dissimular os meus pecados.
Ignoro se existem realmente uma Justiça e uma Misericórdia. Mas, se existem, não desespero delas: fui sempre um homem sincero.” Quem pode dizer isso? Jonas foi sincero e disse : “Eu sou a contradição, eu estou fugindo do meu Deus, estou fugindo da minha palavra, estou fugindo da minha voz mais profunda. Podem me atirar no oceano que a tempestade vai amainar.” Mas, os homens eram generosos e primeiro tiraram a sorte que apontou para Jonas.
O que é sorte? É o que Jung chama de sincronicidade, mas os antigos, chamavam de sinais: eles ouviam o trovão, eles ouviam a coruja que pia, eles ouviam a pedra no meio do caminho, porque sabiam que faziam parte do Universo. Sabiam que eles não eram destacados do Universo e nós perdemos essa orientação, essa consciência de participação. Tornamo-nos pobres diabos jogados num mundo sem sentido... É isso que o normótico crê de si mesmo. Portanto, Jonas mergulha no oceano. Esse é um outro ensinamento muito importante; como dizia um grande sábio, mestre Eckart, diante da Inquisição: “Eu posso me enganar mas eu não posso mais mentir”. Há um momento em que você não pode mais mentir, você vai sofrer tanto, vai atrair tanta tempestade, que você vai resolver mergulhar mais cedo ou mais tarde, um dia todos nós mergulharemos no poço de nós mesmos. E aí, Jonas terminou no ventre do grande peixe e lá ele de novo disse: “Eu vou para a minha batalha, eu juro de novo, eu faço solene promessa”.
Esses textos são muito antigos e são muito atuais, são muito contemporâneos. Em seguida, quero apenas ilustrar um pouco, através de alguns riscos, esse oceano onde Jonas mergulhou, esse poço que podemos chamar de ser humano.
CREMA, Roberto. Novo milênio, nova consciência. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006.
E nós? Estamos buscando ajudar Nínive ou buscando um Társis?
Opine.
Afirmo que estamos buscando Társis. Preferimos as críticas as ações. Reclamamos das pessoas, das religiões, dos políticos, enfim, reclamamos de tudo, mais não fazemos nada ou quase nada para mudar o cenário.
ResponderExcluirDesejamos a melhora, a evolução, a transformação. Porém, na hora de colocar a mão na massa, preferimos por em prática a Lei do Vizinho.
A razão nos leva a Nínive, mais o sentimentalismo, o imediatismo, a falta de compromisso, a ociosidade nos transporta constantemente para Társis.
Que Deus, o grande arquiteto do universo, nos oriente e nos ampare nessa luta, para que possamos abandonar a Lei do Vizinho e passar a praticar a Lei do Trabalho e do exemplo.
Caro Ivan isso caiu como uma luva para mim.. As vezes eu fujo das minha obrigações.... devo ser mais vigilante e critico para com a minha pessoa. Esse texto é um balsamo para os meus olhos e para os olhos de todos.
ResponderExcluirParabéns meu amigo e obrigado
Amigão Ivan eu prefiro Niníve eu devo ser mais autocritico com as pessoas afinal Kardec foi um grande autocritico com diversos ensinamentos e nós verdadeiros espiritas podemos ser assim também, não podemos fugir das nossas missões jamais, e através da luz do evangelho e da resignação, paciencia ajudar e ser ajudado, entretanto às vezes buscamos Tarsis.
ResponderExcluirParabens pelo excelente blog
Esses são os sinceros comentários do seu amigão Jean Barbosa Guimarães
Ok, Jean!
ResponderExcluirMuito obrigado pelo comentário.
Vamos lembrar que o importante é buscar o bem. Sempre.
Abraço