domingo, 28 de outubro de 2012

A sensação e o pensamento.

Será possível alguém se tornar um São Francisco ou um Dalai Lama apenas pela lei do acaso e da necessidade? Esta é uma descabida pretensão, típica do materialismo científico, que é um produto criativo da articulação de apenas duas funções da psique, a da sensação e a do pensamento. Com este instrumento parcial, como compreender a totalidade psíquica, que integra, de modo complementar, a emoção e a intuição? Percebendo a ingenuidade deste racionalismo analítico e redutor, Jung passou a palavra para a própria psique, que é mais sábia, contendo a virtude de uma mente objetiva e coletiva: ‘Fale, Psique; eu estou à escuta’. Assim, através do método da imaginação ativa e ancorando na física quântica, transcendendo as metáforas termodinâmicas de Freud, ele pode ir muito além, propondo o processo de individuação, uma travessia no universo interior que do ego nos conduz ao Self, ao Ser.

Para se entender a evolução humana, além das pesquisas de Darwin e os seus seguidores, necessitamos estudar Plotino, Jacob Boehme, Teilhard de Chardin, Gurdjieff, Ouspensky, Aurobindo, Rudolf-Steiner, Pietro Ubaldi, Krishnamurti, Ken Wilber, Jean-Yves Leloup, entre outros, que se dedicaram à sóbria e vasta pesquisa do desenvolvimento evolutivo. Os que desvelaram o inaudito alcance do potencial humano, muito além do humano, demasiado humano, abominado por Nietzsche. Enfim, o ser humano é uma possibilidade, um devir, um embrião de plenitude em cada um de nós. Como afirma a sábia parábola, daquele que foi um ícone de totalidade e plenitude humana, há que se investir nos talentos que nos foram confiados. Os que, medrosa e indolentemente os enterram, não serão convidados para o banquete da excelência, conformando a horda medíocre da normose.

Autor: Roberto Crema

domingo, 21 de outubro de 2012

Amaldiçoando

Um feiticeiro mexicano conduz seu aprendiz pela floresta. Embora mais velho, ele caminha com agilidade, enquanto seu aprendiz escorrega e cai a todo instante.
O aprendiz blasfema, levanta-se, cospe no chão traiçoeiro, e continua a acompanhar seu mestre.
Depois de longa caminhada, chegam a um lugar sagrado. Sem parar, o feiticeiro dá meia-volta e começa a viagem de volta.
“Você não me ensinou nada hoje”, diz o aprendiz, levando mais um tombo.
“Ensinei sim, mas você parece que não aprende”, responde o feiticeiro. “Estou tentando lhe ensinar como se lida com os erros da vida”.
“E como lidar com eles?”
“Como deveria lidar com seus tombos. Ao invés de ficar amaldiçoando o lugar onde caiu, devia procurar aquilo que provocou a queda”.

Disponível em: http://g1.globo.com/platb/paulocoelho/2012/10/18/amaldicoando/

domingo, 7 de outubro de 2012

Homenagem a Allan Kardec

Trouxeste, Allan Kardec, à longa noite humana,
O Cristo em nova luz – revivescida aurora!
E onde estejas serás, eternidade afora,
A verdade sublime, em que o mundo se irmana.

Em teu verbo solar, a justiça se ufana
De aclarar, consolando, o coração que chora,
A fé brilha, o bem salva, a estrada se aprimora
E a vida, além da morte, esplende soberana!...

Escuta a gratidão da Terra... Em toda parte,
A alma do povo freme e canta ao relembrar-te
A presença estelar e a serena vitória.

Gênio, serviste! Herói, exterminaste as trevas!...
Recebe com Jesus, na glória a que te elevas,
Nosso preito de amor nos tributos da História.

Amaral Ornelas
Soneto publicado em “O Reformador” no ano de 1969.