Será possível alguém se tornar um São Francisco ou um Dalai Lama apenas pela lei do acaso e da necessidade? Esta é uma descabida pretensão, típica do materialismo científico, que é um produto criativo da articulação de apenas duas funções da psique, a da sensação e a do pensamento. Com este instrumento parcial, como compreender a totalidade psíquica, que integra, de modo complementar, a emoção e a intuição? Percebendo a ingenuidade deste racionalismo analítico e redutor, Jung passou a palavra para a própria psique, que é mais sábia, contendo a virtude de uma mente objetiva e coletiva: ‘Fale, Psique; eu estou à escuta’. Assim, através do método da imaginação ativa e ancorando na física quântica, transcendendo as metáforas termodinâmicas de Freud, ele pode ir muito além, propondo o processo de individuação, uma travessia no universo interior que do ego nos conduz ao Self, ao Ser.
Para se entender a evolução humana, além das pesquisas de Darwin e os seus seguidores, necessitamos estudar Plotino, Jacob Boehme, Teilhard de Chardin, Gurdjieff, Ouspensky, Aurobindo, Rudolf-Steiner, Pietro Ubaldi, Krishnamurti, Ken Wilber, Jean-Yves Leloup, entre outros, que se dedicaram à sóbria e vasta pesquisa do desenvolvimento evolutivo. Os que desvelaram o inaudito alcance do potencial humano, muito além do humano, demasiado humano, abominado por Nietzsche. Enfim, o ser humano é uma possibilidade, um devir, um embrião de plenitude em cada um de nós. Como afirma a sábia parábola, daquele que foi um ícone de totalidade e plenitude humana, há que se investir nos talentos que nos foram confiados. Os que, medrosa e indolentemente os enterram, não serão convidados para o banquete da excelência, conformando a horda medíocre da normose.
Autor: Roberto Crema