Estudos de caso revelam que pessoas que ajudam outras
voluntariamente, não importa o quanto esse trabalho exija, são mais felizes.
Mesmo que você nunca tenha tido aulas de catecismo,
provavelmente conhece a história do Bom Samaritano. As ações do Bom Samaritano
abrangem o que hoje denominamos “altruísmo”, que significa, basicamente, ajudar
os outros voluntariamente sem esperar qualquer recompensa, sendo que essa ajuda
pode até acarretar grandes riscos ou custos pessoais.
A sabedoria milenar constatou que dar aos outros também é um
presente para si mesmo. No Ocidente, a Bíblia, fonte da parábola do Bom
Samaritano, diz, “É melhor dar do que receber”. No Oriente, ensinava Buda, “A
generosidade traz abundância, purifica o coração e a mente e proporciona a
maior felicidade”. Hoje, as pesquisas estão comprovando que ajudar aos outros
faz bem à saúde física e psicológica.
Antes de sua morte, em 1970, o inovador psicólogo Abraham
Maslow, Ph.D., concluiu que o comportamento altruísta é um reflexo magnífico do
bem-estar psicológico do indivíduo. De acordo com Maslow, a pessoa “totalmente
humana” é aquela que reflete o “bodhisattva” (ser iluminado) oriental. Essa
pessoa é compassiva por entender que toda a vida é interligada e não deve ser
vivida no isolamento, procurando satisfazer somente o próprio ego, mas a
serviço da comunidade. Maslow afirmou que o altruísmo, a compaixão, o amor e a
amizade significam o desabrochar das sementes com as quais todos nós nascemos.
O que torna a pessoa um altruísta? Chris Kiefer, Ph.D.,
professor de antropologia da Universidade da Califórnia, em San Francisco,
descobriu, nas pessoas entrevistadas, que “altruístas naturais” cresceram em um
lar carinhoso. As pessoas criadas por famílias onde não existia amor, ou onde o
amor era distribuído de forma injusta, eram menos generosas — lhes faltava
confiança e apresentavam um grau de altruísmo e saúde mental bastante inferior.
Kiefer estudou também pessoas que se tornaram altruístas
apesar de infâncias desfavoráveis. Algumas se sentiam alienadas na juventude,
porém mais tarde — devido a uma experiência que os converteu — descobriram quem
eram e qual a sua missão. Outros souberam superar uma infância infeliz através
de um difícil processo de autodesenvolvimento, pelo qual compreenderam que seu
próprio crescimento e realização implicava a preocupação com o próximo. Segundo
Kiefer, a transformação resulta na “união do intelecto com a emoção”.
Veja, por exemplo, Michael Spencer, formado em administração
de empresas e infeliz, que mudou de rumo e começou a estudar música. Seu
objetivo era tornar-se um pianista quando, certo dia, atendendo a um convite,
deu um concerto de caridade em um hospital psiquiátrico. Naquele instante
percebeu que era isso que desejava fazer pelo resto da vida. Como diretor
fundador do Hospital Audiences, sediado em Nova York, Spencer reúne artistas de
alto gabarito e um público imprevisível — pessoas com deficiência, anciães,
prisioneiros e outras pessoas confinadas — que de outra forma não conseguiriam
assisti-los.
Ao contrário do que dizem os céticos — que altruísmo é coisa
para românticos, idealistas e santos — Chris Kiefer descobriu que os altruístas
são realistas, tanto a respeito de si mesmo, como em relação ao mundo. “O
altruísmo é um sinal de saúde mental, porque as pessoas saudáveis não se
preocupam consigo mesmas”, diz ele.
“Estamos falando de um tipo de atividade que é expressão
natural e espontânea de bem-estar e integridade, e não de deficiências e
necessidades neuróticas”, acrescenta Thomas J. Hurley III, diretor do Programa
do Espírito Altruísta do Instituto de Ciências Noéticas. Sediada em Sausalito,
na Califórnia, esta organização sem fins lucrativos foi fundada pelo antigo
astronauta Edgar Mitchell, para dar suporte a programas educacionais e de
pesquisa sobre o desenvolvimento do potencial humano. Desde 1987, o Instituto
oferece anualmente US.000 como prêmio para o Altruísmo Criativo de pessoas
comuns que identificaram um problema e decidiram fazer alguma coisa para
saná-lo.
Os altruístas são fundamentalmente iniciadores. Uma vez
estabelecida uma meta na qual acreditam, fazem tudo para alcançá-la. Depois,
tendo feito tudo o que foi possível, eles sabem quando tirar da mente e confiar
em algo que está além do seu controle. “É nesse ponto que a prática espiritual
ou fé exerce um papel importante”, explica Hurley. “Eles têm algo a que
recorrer, em que confiar”.
Talvez o seu maior dom seja o que Hurley denominou “dom de
reconhecer”. “Há sempre esse extraordinário e fundamental respeito pela
dignidade dos outros — ‘você é valioso simplesmente por ser’”, afirma ele.
“Acho que é isso que faz a vida mudar de rumo”.
A gente poderia imaginar que o tempo e o esforço dedicados a
fazer o bem poderia prejudicar a pessoa. No entanto, ajudar os outros, mesmo
por meio de tarefas estressantes, pode acrescentar vários anos à nossa vida.
“Quando nos dedicamos voluntariamente a essa situação, os
efeitos do estresse são diferentes dos efeitos do estresse causado pelo
trabalho, independente da própria vontade, que raramente podemos controlar”,
diz Kenneth R. Pelletier, psicólogo clínico da Faculdade de Medicina da
Universidade Stanford.
Na verdade, o que ocorre é o oposto do estresse ou reação de
alerta — nós relaxamos, afirma Dr. Herbert Benson, professor adjunto de
medicina da Faculdade de Medicina de Harvard. O metabolismo, a pressão
arterial, os batimentos cardíacos e a respiração diminuem, assim como a
ansiedade, a depressão e a irritação.
“É difícil a gente se sentir deprimido diante de um sorriso
que ajudamos a criar”, diz Pelletier e acrescenta, “E se você pensa que a sua
situação é dura e você se torna um voluntário, isto coloca a sua própria vida
em perspectiva”.
Dar com desprendimento é um ato que nos enche de energia.
Alan Luks, diretor executivo de Big Brothers / Big Sisters de Nova York,
descobriu que ajudar os outros faz mais do que agir como antidepressivo e
levantar a auto-estima. Também permite controlar a dor. Uma mulher que sofria
de dores na coluna não sentia qualquer dor quando segurava no colo crianças
abandonadas em um hospital. Após dois dias seu desconforto era ainda menor do
que de costume.
Luks também escreve sobre isto em seu livro “The Healing
Power of Doing Good” [O Poder Curativo de Praticar o Bem]. De 3.300 voluntários
pesquisados em 1989, aqueles que ajudavam regularmente informavam dez vezes
mais que havia melhorado sua saúde do que aqueles que só trabalhavam como
voluntários uma vez por ano. Entretanto, o contato pessoal é importantíssimo;
doar dinheiro ou roupas não proporciona a mesma “sensação de bem-estar”.
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