domingo, 13 de maio de 2012

Maternidade Divina - A grande Deusa-Mãe


Publiquei o texto abaixo no ano passado e acho que vale a releitura. Divirtam-se!

Sendo a Trindade Suprema constituída por três pessoas, uma delas deveria ser necessariamente a “mãe”, uma vez que as outras duas são o Pai e o Filho.

No cristianismo gnóstico primitivo, a terceira pessoa (o Espírito Santo) era identificada com Sofia (ou sabedoria ativa), uma representação feminina.

Com a exclusão do princípio feminino da Trindade, o cristianismo se tornou uma das poucas religiões que negligenciaram o aspecto feminino da Divindade, embora o culto a Maria tenha sido introduzido apressadamente no início da idade média, porque a falta deste princípio estava levando muitos dos fiéis a retornarem aos cultos “pagãos” de Ísis, Hathor, Demeter, Ceres, Freya, Athena, Afrodite, Cibele Ártemis, Epona, Kwan Yin, Kali, Saraswati, Lakskmi e Parvati.

O arquétipo da Grande Mãe Universal, geradora e sustentadora da vida e consoladora dos aflitos está profundamente arraigado no inconsciente coletivo da humanidade.

Esse arquétipo pode ser substituído na forma superficial por outra imagem simbólica, como ocorreu na substituição do culto de Ísis pelo culto de Maria, mas, em essência, trata-se do mesmo princípio da maternidade universal, a grande-mãe levada a seu nível mais arquetípico e universalizado.

Por trás da estonteante profusão de deusas das religiões pré cristãs, pode-se perceber a presença do mesmo arquétipo: a deusa-mãe, que produz e sustenta as formas de vida. A deusa consoladora e nutriz a quem os fiéis dirigiam suas preces e oferendas nos momentos de aflição e sofrimento.

O protestantismo nega veementemente a validade do culto à Maria, porque o protestantismo nada mais é do que o judaísmo reciclado e cristianizado, mantendo, porém as atitudes básicas e valores do judaísmo tradicional, uma religião essencialmente masculina.

Além desse aspecto, o protestantismo é uma religião pouco afeta ao simbolismo, sendo fundamentada numa interpretação mais literalizada das escrituras.

Esquecem-se, porém, de que o judaísmo atual é produto da codificação dos levitas jeovitas. No judaísmo primitivo, o Deus El tinha uma consorte, Áshera. Também na Cabala existem personificações femininas das Sephitotes (esferas de emanação), a exemplo de Binah e Netzah.

O próprio texto do Gênese começa com uma frase simbólica e enigmática: “No início, o espírito de YHWH pairava sobre a face das águas”.

Essa é uma frase de uma profundidade e riqueza simbólica extraordinária. Seria grotesca a interpretação literal de se imaginar que o texto se refere a um homenzarrão pairando sobre um vasto oceano de águas revoltas.

A metáfora significa que antes de a manifestação se iniciar, havia dois princípios: o princípio de Vida/Consciência (O Espírito de Deus) e o princípio original da matéria (as águas) que estavam em estado revolto como um grande mar de matéria-raiz primordial, que formava o oceano do caos na aurora da manifestação.

Um taoísta experimentado perceberia nesses dois princípios o Iang e o Ying primordiais, princípios cósmicos impessoais expressos através de simbolismo, que é a única maneira de aludir a algo tão distante da experiência humana e tão além da compreensão humana, especialmente de povos primitivos da idade do bronze.

Essas “águas primordiais” sobre as quais pairava o Espírito de YHWH são a verdadeira Virgem Maria, capaz de gerar o universo como o filho de sua união com o sopro de IHWH.

Esse é o mistério maior, representado em escala menor pela imaculada concepção de Maria.

Em escala cósmica, Maria (ou a Grande mãe) é o grande mar, o útero cósmico de onde nasce o universo. Não é por acaso que as palavras mar e maria, assim como mater e matéria têm a mesma origem.

Em sua visão impessoal da origem do mundo através da interação dos princípios masculinos (Iang) e feminino (Ying), os taoístas correm menos riscos do que os ocidentais de confundir símbolos com realidades.

Eles sabem que, na realidade, não existe a dualidade entre Pai e Mãe, ou entre o “Espírito de Deus” e a “face das águas”. Ambos são aspectos diferenciados da mesma unidade, são diferentes polaridades do grande Tao.

Assim, resolve-se o problema da maternidade divina, sem necessidade de se criar dualidades ou de supor que existe “um deus” e “uma deusa”.

Fazendo-se uma analogia com a luz do sol, pode-se notar que a Luz do sol em si mesma corresponde ao “Pai”. A mesma luz, atuando como o princípio criador e nutridor das formas de vida, corresponde à mãe. Nessa analogia, o “Pai” representa o princípio fertilizador da luz. A “mãe” representa o princípio criador e nutridor das formas de vida. E o “filho” representa os seres criados, que, por sua vez, repetem o mesmo ciclo em seu ambiente de vida.

Neste momento de virada de século (e também de ciclo), nota-se uma saturação e esgotamento da forma de religiosidade predominantemente masculina oferecida pelo cristianismo eclesiástico. A humanidade anseia por novas sínteses integradoras, ao mesmo tempo em que as velhas formas reagem e se solidificam através do fundamentalismo.

Todavia, nada pode conter o movimento inexorável dos ciclos, e uma nova religião que reintegre Deus-Pai, Deus-Mãe e Deus-Filho irá reaproximar a humanidade e promover a renovação do mundo.

Disponível em: http://www.sociedadeteosofica.org.br/bhagavad/site/livro/cap38.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente: