quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O que é um ser humano?

Nós não sabemos o que é um ser humano pleno. Não sei se vocês já conheceram um ser humano pleno, inteiro, verdadeiro. Eu receio ter que dizer que o ser humano nesse momento é uma grande utopia, não no sentido do irrealizável, no sentido do irrealizado ou ainda não realizado, aquilo para o qual não há espaço.

O que é um ser humano? O ser humano é uma promessa. Os antigos diziam que o ser humano ainda não nasceu, que nós somos uma possibilidade. O ser humano é um potencial de florescimento. Se nós investirmos na dimensão do coração, na dimensão da alma, poderemos nos tornar seres humanos plenos. Porém, temos feito isso? Quando é que eu inclinei meu coração para aprender, aprender realmente quem sou e comprar uma briga, nadar contra a correnteza muitas vezes. Porém, quando você se coloca no seu caminho, que é o caminho da sua promessa, o caminho com coração, então o mistério conspira por você e você evolui de uma existência perdida, alienada, para uma existência escolhida, ofertada. Portanto, essa é uma grande pergunta: "O que é o ser humano”? E antes de falar sobre a questão específica da liderança, eu gostaria de fazer uns traços a título de indicação e, inspirando-me nesse grande irmão, Jean-Yves Leloup, para falar de algumas visões do ser humano. Não é possível saber o que é liderança, nem o que é educação, nem o que é saúde, se nós não esclarecermos nossos pressupostos antropológicos, ou seja, a visão que postulamos do ser humano porque é a partir dessa visão que diremos o que é saúde, o que é patologia, o que é uma liderança efetiva, o que é excelência humana e o que é miséria humana.

Até onde eu posso enxergar, existem 3 tipos de seres humanos:

- Aqueles que nascem e morrem piores do que nasceram - são os degenerados;
- Aqueles que nascem e morrem como nasceram - são os que mantiveram a saúde; e
- Aqueles que nascem e se tornam quem eles são, assim como uma flor se torna uma flor, uma mangueira se torna uma mangueira - são os que aceitaram o desafio da evolução.

Quando perguntaram para Krishnamurti - que foi um ser humano pleno! - “Por que você ensina?”, ele respondeu: “Por que um pássaro canta?”. Eu gosto muito da provocação e sempre lembro de Abrahan Maslow, um dos pais da psicologia humanística, que dizia: "Num certo sentido, apenas os santos são a humanidade”. O resto não deu certo. Quer saber o que é um ser humano? Estude os santos, não apenas os da tradição católica; também os da tradição hindu, taoísta, xamanística, da tradição sufi, todas as tradições; e os agnósticos também (os santos sem tradição). É preciso estudar seres humanos que deram certo. E aí, lembro-me sempre dessas palavras de Teresa de Calcutá: "Santidade não é um privilégio de poucos, é uma necessidade de cada um de nós". E digo mais; nesse momento é uma obrigação de cada um de nós! Acontece que projetamos o nosso potencial em algumas pessoas especiais, o que os antigos e o próprio Maslow chamavam de complexo de Jonas, que o Jean-Yves Leloup interpreta tão bem no seu livro "Caminhos da realização". Jonas, em hebraico, significa a pomba das asas cortadas. Jonas é esse ser que nos habita e que tem medo de ser quem ele é, que tem medo de atender ao chamado. Os antigos estudavam os personagens das escrituras não apenas na sua dimensão histórica, mas também como grandes imagens, imagens estruturantes da nossa psique, da nossa existência, arquétipos diria Jung.

Parece-me que Jonas é o arquétipo que precisamos estudar quando queremos falar sobre liderança, porque ele nos indica sobre o nosso desejo inconsciente da normose: como resistimos a investir no nosso potencial máximo.

CREMA, Roberto. Novo milênio, nova consciência. In: SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador: Fundação Ocidemnte, 2006.

E aí, o que é um ser humano? Seremos um desses?

4 comentários:

  1. Jonas representa o arquétipo do homem paralisado, povoado de medos. Jean-Yves Leloup é, de fato, um grande e importante pensador do mundo contemporâneo - seu pensamento é poético, universalista e multidimensional. Numa entrevista originalmente publicada na revista “Planeta” ele observou: “[...] Vejo a humanidade em uma situação de apocalipse, entendendo a palavra apocalipse como revelação. Há algo desmoronando, e há também algo que está nascendo. Nós escutamos o barulho do carvalho que cai, mas não escutamos o barulho da floresta que brota. Ouvimos o ruído das torres desmoronando, mas não escutamos a consciência que desperta. No mundo de hoje há muitas coisas que desmoronam, e em geral falamos das coisas que fazem ruídos, mas não falamos das sementes de consciência e de luz que estão germinando [...].

    ResponderExcluir
  2. Só em estarmos aqui, já nos coloca na posição de devedores. Estamos aqui para resgatar débitos, porém muitas vezes contraímos mais dividas. Estamos vivendo a era do medo, onde as nossas mentes estão sendo aprisionadas seja pelas religiões (teosofia) seja pela política (educação). E quando um ser ultrapassa todos esses obstáculos se transforma em um ser divinizado.
    Lendo a "As Vidas de Chico" percebo que estamos muito longe da evolução plena e que ainda voltaremos muitas e muitas vezes para aprender o verdadeiro amor.
    Estamos sempre buscando desculpas para justificar a nossa fraqueza e falta de fé. Gostaria de lembrar que não dormiremos seres humanos em evolução e acordamos evoluídos. Mais é preciso dar o primeiro passo que é a renuncia.

    ResponderExcluir
  3. Isso aí, Geovani!
    Obrigado pelo comentário.

    Abraços,

    ResponderExcluir
  4. Faço das minhas palavras às palavras do Giovani.

    Jean
    Isso aí, amigão!


    Abraços

    ResponderExcluir

Comente: