Em qual sentido a rejeição da crença na existência de um deus implica a rejeição do ponto de vista de que a vida tem algum significado? Se este mundo foi criado por algum ser divino, com um determinado objetivo em mente, poder-se-ia divino. Se soubéssemos qual objetivo levou o ser divino a nos criar, saberíamos, então, qual seria o sentido de nossa vida para o nosso criador. Se aceitássemos o objetivo do nosso criador (embora fosse preciso explicar por que haveríamos de fazê-lo), poderíamos afirmar que conhecemos o significado da vida.
Quando rejeitamos a crença num deus, devemos abrir mão da ideia de que a vida neste planeta tem algum significado predeterminado. Vista como um todo, a vida não tem sentido. De acordo com as melhores teorias de que dispomos, a vida começou a partir de uma combinação aleatória de moléculas; depois, desenvolveu-se através de mutações casuais e da seleção natural. Tudo isso simplesmente aconteceu; não aconteceu em decorrência de nenhuma finalidade geral. Agora, porém, quando já resultou na existência de seres que preferem um estado de coisas a outro, pode ser possível que determinadas vidas tenham um significado. Neste sentido, os ateus podem encontrar significado na vida.
Retomemos a comparação entre a vida de um psicopata e a de uma pessoa mais normal. Por que a vida do psicopata não deveria ter sentido? Vimos que os psicopatas levam o seu egocentrismo ao ponto máximo: nada lhes interessa, nem as outras pessoas, nem o sucesso na vida prática, nem qualquer outra coisa do gênero. Por que motivo, porém, o prazer que suas vidas lhes proporcionam não é suficiente para que tenham sentido?
Muito poucos, dentre nós, seriam capazes de encontrar a felicidade ao decidir deliberadamente, desfrutar a vida sem se preocupar com ninguém ou coisa alguma. Os prazeres que então obteríamos pareceriam vazios, e logo nos fartaríamos deles. Procuramos um sentido para as nossas vidas que vá além dos nossos prazeres, e encontramos alegria e satisfação em fazer as coisas que consideramos dotadas de sentido. Se a nossa vida não tiver nenhum sentido além da nossa própria felicidade, é provável que, ao conseguirmos aquilo que julgamos necessário à nossa felicidade, constatemos que a felicidade em si continua a esquivar-se de nós.
Chamamos de “paradoxo do hedonismo” o fato de que as pessoas que procuram a felicidade quase nunca conseguem encontrá-la, ao passo que outros a encontram numa busca de objetivos totalmente diversos. Não se trata, por certo, de um paradoxo lógico, mas de um postulado sobre o modo pelo qual chegamos a ser felizes. A exemplo de outras generalizações sobre esse tema, falta-lhe confirmação empírica. Contudo, vai ao encontro das nossas observações cotidianas e é coerente com a nossa natureza de seres desenvolvidos e dotados de um propósito consciente. Os seres humanos sobrevivem e se reproduzem através da ação dotada de propósitos consciente. Alcançamos a felicidade e a satisfação ao lutarmos pelos nossos objetivos e concretizá-los. Em termos evolutivos, poderíamos dizer que a felicidade funciona com uma recompensa interna pelas nossas conquistas. Subjetivamente, vemos a concretização do objetivo (ou a progressão até ele) como uma razão para a felicidade. Portanto, a nossa própria felicidade é um subproduto do desejo de conseguir uma outra coisa, não sendo alcançada quando o objetivo em questão é a felicidade pela felicidade.
A vida do psicopata pode agora ser vista como desprovida de sentido de uma maneira que uma vida normal não é. Não tem sentido porque se volta para prazeres do momento, sem buscar alguma coisa a longo prazo, ou um objetivo mais abrangente. As vidas mais normais têm sentido porque são vividas na expectativa de objetivos mais amplos.
Tudo isso é especulativo. São coisas que podemos aceitar ou rejeitar na medida em que estejam de acordo com as nossas observações e introspecções. Minha próxima — e última — sugestão é ainda mais especulativa: para encontrarmos um significado duradouro para as nossas vidas, não basta ir além dos psicopatas que não têm projetos de vida ou compromissos a longo prazo; precisamos também ir além dos egoístas mais precavidos, que têm projetos a longo prazo, só que exclusivamente voltados para os seus interesses próprios. Esses egoístas podem encontrar sentido em suas vidas durante algum tempo, pois são movidos pelo objetivo de fomentar os seus interesses, mas, no fim das contas, que significado tem isso? Quando todos os nossos interesses já tiverem sido realizados, vamos nos sentar e ser felizes para sempre? Conseguiríamos ser felizes desse modo? Ou decidiríamos que o nosso objetivo ainda estava por consumar- se, que ainda precisaríamos fazer algumas coisas antes de sentar e desfrutar de nossas conquistas? A maior parte dos egoístas materialmente bem-sucedidos opta por esta última alternativa, fugindo assim à necessidade de admitir que não conseguem encontrar a felicidade vivendo em férias permanentes. Pessoas que se mataram de trabalhar para abrir seus pequenos negócios, dizendo a si mesmas que só o fariam até ganharem o suficiente para levar uma vida confortável, continuam trabalhando até muito tempo depois de terem concretizado o seu objetivo original. As suas “necessidades” materiais se expandem com rapidez suficiente para ficarem além dos seus rendimentos.
Os anos 80, a “década da ganância”, nos legaram inúmeros exemplos da natureza insaciável do desejo de riqueza. Em 1985, Dennis Levine era um bem-sucedido banqueiro de Wall Street, proprietário da empresa mais falada e de cresci mento mais rápido do lugar, Drexel Burnham Lambert. Levine, porém, não estava satisfeito:
Quando estava ganhando vinte mil dólares por ano, achei que era capaz de ganhar cem mil. Quando já ganhava cem mil por ano, achei que poderia ganhar duzentos mil. Quando estava ganhando um milhão de dólares por ano, achei que poderia ganhar três milhões. Havia sempre alguém num degrau mais alto que o meu, e eu não conseguia parar de pensar: será que ele é realmente duas vezes melhor do que eu?
Levine decidiu entrar em ação e conseguiu que alguns amigos de outras empresas de Wall Street lhe passassem informações confidenciais que lhe permitiriam obter lucros através da compra de ações de empresas que estavam prestes a abrir falência. Graças a esse método, Levine teve um lucro adicional de onze milhões de dólares acima do que ganhava entre salários e gratificações. Também provocou a sua própria ruína e passou um bom tempo na prisão. Não é este, porém, o ponto relevante para nós. Sem dúvida, muitos dos que usam informações confidenciais para ganhar milhões de dólares não são apanhados pela polícia. O que é menos certo, contudo, é que realmente encontrem satisfação e felicidade pelo fato de terem mais dinheiro.
Agora começamos a ver onde entra a ética no problema de se levar uma vida com sentido. Se estamos atrás de um objetivo mais amplo do que os nossos interesses pessoais, alguma coisa que nos permita ver as nossas vidas como existências dotadas de uma importância que extrapola os estreitos limites dos nossos estados conscientes, uma solução óbvia é adotar o ponto de vista ético. Este, como já vimos, exige que ultrapassemos um ponto de vista pessoal e que assumamos o ponto de vista de um espectador imparcial. Portanto, ver as coisas eticamente é uma maneira de transcender as nossas preocupações subjetivas e de nos identificar com o ponto de vista mais objetivo possível — nas palavras de Sidgwick, com “o ponto de vista do universo”.
O ponto de vista do universo é um ponto de vista elevado. No ar rarefeito que o envolve, podemos ser levados a discorrer, como faz Kant, sobre o ponto de vista moral, humilhando “inevitavelmente” todos os que comparam a sua natureza limitada com ele. Não pretendo sugerir nada de tão grandioso. No início deste capítulo, ao rejeitar o argumento apresentado por Thomas Nagel em defesa da racionalidade do altruísmo, afirmei não existir nada de irracional em se preocupar com a qualidade da própria existência sem se preocupar com a qualidade da existência de outros indivíduos. Não voltando a esta colocação, quero agora sugerir que, no sentido amplo que inclui a consciência de si mesmo e a reflexão sobre a natureza e a finalidade da nossa própria existência, a racionalidade pode nos levar a preocupações mais amplas do que a qualidade da nossa própria existência; o processo, porém, não é necessário, e os que dele não participam — ou que, ao participarem, não o seguem até o ponto de vista ético — não são irracionais, nem incorrem em erro. Até onde sei, os psicopatas podem simples mente ser incapazes de alcançar tanta felicidade preocupando-se com os outros, quanto lhes é dado alcançar através da prática de atos anti-sociais. Para outras pessoas, colecionar selos é uma forma totalmente adequada de dar um objetivo às suas vidas. Não há, nisso, nada de irracional, mas, repetindo, existem outros que deixam de colecionar selos quando se tornam mais conscientes de sua situação no mundo e mais contemplativos no que diz respeito aos seus objetivos. A este terceiro grupo, o ponto de vista ético oferece um significado e um objetivo na vida que nunca são abandonados.
(Pelo menos, não se pode abandonar o ponto de vista ético até que todos os deveres éticos tenham sido cumpridos. Se essa utopia fosse alguma vez alcançada, nossa natureza fina lista poderia muito bem deixar-nos insatisfeitos, tanto quanto os egoístas talvez se sintam insatisfeitos quando já têm tudo de que necessitam para serem felizes. Não há nada de paradoxal nisto, pois não devemos esperar que a evolução nos tenha provido, por antecipação, da capacidade de desfrutar de uma situação que nunca anteriormente ocorreu. Isso também não vai constituir um problema prático no futuro próximo.)
A pergunta “Por que agir moralmente?” não pode receber uma resposta que ofereça a todos razões imperiosas para a prática de atos morais, O comportamento eticamente indefensável não é sempre irracional. E provável que sempre venhamos a precisar que as sanções legais e a pressão social nos dêem razões adicionais contra graves violações dos padrões éticos. Por outro lado, aqueles cuja reflexão é suficiente para levá-los a fazer a pergunta que discutimos ao longo deste capítulo são também os que têm maiores probabilidades de compreender as razões que podem ser oferecidas para a adoção do ponto de vista ético.
SINGER, Peter. Por que agir moralmente?. In: ____. Ética prática. São Paulo: Martins Fontes. 2006. p. 348 – 353
Quando rejeitamos a crença num deus, devemos abrir mão da ideia de que a vida neste planeta tem algum significado predeterminado. Vista como um todo, a vida não tem sentido. De acordo com as melhores teorias de que dispomos, a vida começou a partir de uma combinação aleatória de moléculas; depois, desenvolveu-se através de mutações casuais e da seleção natural. Tudo isso simplesmente aconteceu; não aconteceu em decorrência de nenhuma finalidade geral. Agora, porém, quando já resultou na existência de seres que preferem um estado de coisas a outro, pode ser possível que determinadas vidas tenham um significado. Neste sentido, os ateus podem encontrar significado na vida.
Retomemos a comparação entre a vida de um psicopata e a de uma pessoa mais normal. Por que a vida do psicopata não deveria ter sentido? Vimos que os psicopatas levam o seu egocentrismo ao ponto máximo: nada lhes interessa, nem as outras pessoas, nem o sucesso na vida prática, nem qualquer outra coisa do gênero. Por que motivo, porém, o prazer que suas vidas lhes proporcionam não é suficiente para que tenham sentido?
Muito poucos, dentre nós, seriam capazes de encontrar a felicidade ao decidir deliberadamente, desfrutar a vida sem se preocupar com ninguém ou coisa alguma. Os prazeres que então obteríamos pareceriam vazios, e logo nos fartaríamos deles. Procuramos um sentido para as nossas vidas que vá além dos nossos prazeres, e encontramos alegria e satisfação em fazer as coisas que consideramos dotadas de sentido. Se a nossa vida não tiver nenhum sentido além da nossa própria felicidade, é provável que, ao conseguirmos aquilo que julgamos necessário à nossa felicidade, constatemos que a felicidade em si continua a esquivar-se de nós.
Chamamos de “paradoxo do hedonismo” o fato de que as pessoas que procuram a felicidade quase nunca conseguem encontrá-la, ao passo que outros a encontram numa busca de objetivos totalmente diversos. Não se trata, por certo, de um paradoxo lógico, mas de um postulado sobre o modo pelo qual chegamos a ser felizes. A exemplo de outras generalizações sobre esse tema, falta-lhe confirmação empírica. Contudo, vai ao encontro das nossas observações cotidianas e é coerente com a nossa natureza de seres desenvolvidos e dotados de um propósito consciente. Os seres humanos sobrevivem e se reproduzem através da ação dotada de propósitos consciente. Alcançamos a felicidade e a satisfação ao lutarmos pelos nossos objetivos e concretizá-los. Em termos evolutivos, poderíamos dizer que a felicidade funciona com uma recompensa interna pelas nossas conquistas. Subjetivamente, vemos a concretização do objetivo (ou a progressão até ele) como uma razão para a felicidade. Portanto, a nossa própria felicidade é um subproduto do desejo de conseguir uma outra coisa, não sendo alcançada quando o objetivo em questão é a felicidade pela felicidade.
A vida do psicopata pode agora ser vista como desprovida de sentido de uma maneira que uma vida normal não é. Não tem sentido porque se volta para prazeres do momento, sem buscar alguma coisa a longo prazo, ou um objetivo mais abrangente. As vidas mais normais têm sentido porque são vividas na expectativa de objetivos mais amplos.
Tudo isso é especulativo. São coisas que podemos aceitar ou rejeitar na medida em que estejam de acordo com as nossas observações e introspecções. Minha próxima — e última — sugestão é ainda mais especulativa: para encontrarmos um significado duradouro para as nossas vidas, não basta ir além dos psicopatas que não têm projetos de vida ou compromissos a longo prazo; precisamos também ir além dos egoístas mais precavidos, que têm projetos a longo prazo, só que exclusivamente voltados para os seus interesses próprios. Esses egoístas podem encontrar sentido em suas vidas durante algum tempo, pois são movidos pelo objetivo de fomentar os seus interesses, mas, no fim das contas, que significado tem isso? Quando todos os nossos interesses já tiverem sido realizados, vamos nos sentar e ser felizes para sempre? Conseguiríamos ser felizes desse modo? Ou decidiríamos que o nosso objetivo ainda estava por consumar- se, que ainda precisaríamos fazer algumas coisas antes de sentar e desfrutar de nossas conquistas? A maior parte dos egoístas materialmente bem-sucedidos opta por esta última alternativa, fugindo assim à necessidade de admitir que não conseguem encontrar a felicidade vivendo em férias permanentes. Pessoas que se mataram de trabalhar para abrir seus pequenos negócios, dizendo a si mesmas que só o fariam até ganharem o suficiente para levar uma vida confortável, continuam trabalhando até muito tempo depois de terem concretizado o seu objetivo original. As suas “necessidades” materiais se expandem com rapidez suficiente para ficarem além dos seus rendimentos.
Os anos 80, a “década da ganância”, nos legaram inúmeros exemplos da natureza insaciável do desejo de riqueza. Em 1985, Dennis Levine era um bem-sucedido banqueiro de Wall Street, proprietário da empresa mais falada e de cresci mento mais rápido do lugar, Drexel Burnham Lambert. Levine, porém, não estava satisfeito:
Quando estava ganhando vinte mil dólares por ano, achei que era capaz de ganhar cem mil. Quando já ganhava cem mil por ano, achei que poderia ganhar duzentos mil. Quando estava ganhando um milhão de dólares por ano, achei que poderia ganhar três milhões. Havia sempre alguém num degrau mais alto que o meu, e eu não conseguia parar de pensar: será que ele é realmente duas vezes melhor do que eu?
Levine decidiu entrar em ação e conseguiu que alguns amigos de outras empresas de Wall Street lhe passassem informações confidenciais que lhe permitiriam obter lucros através da compra de ações de empresas que estavam prestes a abrir falência. Graças a esse método, Levine teve um lucro adicional de onze milhões de dólares acima do que ganhava entre salários e gratificações. Também provocou a sua própria ruína e passou um bom tempo na prisão. Não é este, porém, o ponto relevante para nós. Sem dúvida, muitos dos que usam informações confidenciais para ganhar milhões de dólares não são apanhados pela polícia. O que é menos certo, contudo, é que realmente encontrem satisfação e felicidade pelo fato de terem mais dinheiro.
Agora começamos a ver onde entra a ética no problema de se levar uma vida com sentido. Se estamos atrás de um objetivo mais amplo do que os nossos interesses pessoais, alguma coisa que nos permita ver as nossas vidas como existências dotadas de uma importância que extrapola os estreitos limites dos nossos estados conscientes, uma solução óbvia é adotar o ponto de vista ético. Este, como já vimos, exige que ultrapassemos um ponto de vista pessoal e que assumamos o ponto de vista de um espectador imparcial. Portanto, ver as coisas eticamente é uma maneira de transcender as nossas preocupações subjetivas e de nos identificar com o ponto de vista mais objetivo possível — nas palavras de Sidgwick, com “o ponto de vista do universo”.
O ponto de vista do universo é um ponto de vista elevado. No ar rarefeito que o envolve, podemos ser levados a discorrer, como faz Kant, sobre o ponto de vista moral, humilhando “inevitavelmente” todos os que comparam a sua natureza limitada com ele. Não pretendo sugerir nada de tão grandioso. No início deste capítulo, ao rejeitar o argumento apresentado por Thomas Nagel em defesa da racionalidade do altruísmo, afirmei não existir nada de irracional em se preocupar com a qualidade da própria existência sem se preocupar com a qualidade da existência de outros indivíduos. Não voltando a esta colocação, quero agora sugerir que, no sentido amplo que inclui a consciência de si mesmo e a reflexão sobre a natureza e a finalidade da nossa própria existência, a racionalidade pode nos levar a preocupações mais amplas do que a qualidade da nossa própria existência; o processo, porém, não é necessário, e os que dele não participam — ou que, ao participarem, não o seguem até o ponto de vista ético — não são irracionais, nem incorrem em erro. Até onde sei, os psicopatas podem simples mente ser incapazes de alcançar tanta felicidade preocupando-se com os outros, quanto lhes é dado alcançar através da prática de atos anti-sociais. Para outras pessoas, colecionar selos é uma forma totalmente adequada de dar um objetivo às suas vidas. Não há, nisso, nada de irracional, mas, repetindo, existem outros que deixam de colecionar selos quando se tornam mais conscientes de sua situação no mundo e mais contemplativos no que diz respeito aos seus objetivos. A este terceiro grupo, o ponto de vista ético oferece um significado e um objetivo na vida que nunca são abandonados.
(Pelo menos, não se pode abandonar o ponto de vista ético até que todos os deveres éticos tenham sido cumpridos. Se essa utopia fosse alguma vez alcançada, nossa natureza fina lista poderia muito bem deixar-nos insatisfeitos, tanto quanto os egoístas talvez se sintam insatisfeitos quando já têm tudo de que necessitam para serem felizes. Não há nada de paradoxal nisto, pois não devemos esperar que a evolução nos tenha provido, por antecipação, da capacidade de desfrutar de uma situação que nunca anteriormente ocorreu. Isso também não vai constituir um problema prático no futuro próximo.)
A pergunta “Por que agir moralmente?” não pode receber uma resposta que ofereça a todos razões imperiosas para a prática de atos morais, O comportamento eticamente indefensável não é sempre irracional. E provável que sempre venhamos a precisar que as sanções legais e a pressão social nos dêem razões adicionais contra graves violações dos padrões éticos. Por outro lado, aqueles cuja reflexão é suficiente para levá-los a fazer a pergunta que discutimos ao longo deste capítulo são também os que têm maiores probabilidades de compreender as razões que podem ser oferecidas para a adoção do ponto de vista ético.
SINGER, Peter. Por que agir moralmente?. In: ____. Ética prática. São Paulo: Martins Fontes. 2006. p. 348 – 353
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